Violência contra mulheres cresce nas noites de domingo em SP; entenda

Atualizado em 8 de março de 2025 às 10:09
Atriz com hematomas em representação de violência doméstica. Foto: ilustração

Os domingos à noite se destacam como o período de maior incidência de crimes de violência doméstica em São Paulo. Uma análise de 101 mil boletins de ocorrência registrados na capital paulista em 2023 revelou que, em média, 357 casos de violência contra mulheres são registrados diariamente. No entanto, as noites dominicais concentram um número significativo dessas agressões, muitas delas cometidas por parceiros ou ex-parceiros.

Os dados, obtidos pela Folha de S.Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostram que os crimes mais comuns são ameaça, injúria e lesão corporal.

Do total de ocorrências, 40% indicam a relação entre vítima e agressor, sendo que 81% dos casos envolvem homens com quem as mulheres tinham algum tipo de relacionamento amoroso. A faixa etária mais afetada é a de 25 a 45 anos, com 54.750 registros, representando mais da metade dos casos com essa informação.

Maíra Recchia, presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da OAB-SP, explicou que o aumento da violência aos domingos está relacionado a fatores como o convívio mais próximo durante os finais de semana e o maior consumo de bebidas alcoólicas e drogas.

“São os principais catalisadores das violências”, afirmou em entrevista à Folha. Além disso, a maioria dos crimes ocorre em vias públicas (60.488 casos), mais que o dobro dos registrados em residências (29.789) e na internet (1.522).

A demógrafa Jackeline Romio ressaltou que a violência contra mulheres varia de acordo com a idade. Meninas até 14 anos são frequentemente vítimas de estupro de vulnerável (39,7%), lesão corporal (20%) e maus-tratos (10%). Já mulheres entre 15 e 29 anos enfrentam maior risco de violência em vias públicas e por parte de parceiros ou ex-parceiros. A partir dos 30 anos, as agressões ocorrem principalmente dentro de casa, enquanto idosas sofrem tanto violência intrafamiliar quanto por parceiros íntimos.

“Esses padrões reforçam a necessidade de políticas específicas para cada faixa etária, considerando os diferentes contextos de risco”, disse Romio. Ela também destacou a importância de ações multissetoriais e a transformação das normas sociais para combater a violência de gênero, que está ligada a relações desiguais de poder e a fatores como classe social, raça/cor e território.

Na capital paulista, o 47º DP (Capão Redondo), na zona sul, lidera o número de ocorrências, com 2.415 registros em 2023. Outras delegacias, como o 73º DP (Jaçanã) e o 46º DP (Perus), na zona norte, também apresentam altos índices de violência contra mulheres.

Fachada do 47º DP, em Capão Redondo, onde há o maior registro de casos de violência doméstica em SP. Foto: reprodução

Apesar de os registros não refletirem necessariamente o local de residência das vítimas, Romio observou que essas regiões costumam ter altos índices de outras formas de violência, como a letal e a econômica, o que intensifica os riscos para mulheres periféricas, especialmente as jovens.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado afirma que a ampliação das políticas públicas de proteção às mulheres tem contribuído para o aumento das denúncias. Em 2024, foram registrados 191 mil casos de violência doméstica em São Paulo, contra 182 mil em 2023.

Entre as medidas adotadas estão a implantação de 162 Salas DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) 24 horas, o aplicativo SP Mulher Segura e o monitoramento de agressores por tornozeleira eletrônica.

Para Maíra Recchia, os dados refletem uma sociedade machista e a necessidade de mudanças culturais e estruturais. “Se temos leis para tudo, não é sinal de sucesso, mas de fracasso. Temos que ensinar para um homem que não pode tocar no corpo da mulher sem o consentimento, isso significa que falhamos na base”, afirmou.

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