Violência policial no Rio: eles não ligam para a dor de uma mãe. Por Fernando Brito

Atualizado em 15 de fevereiro de 2019 às 7:01

Publicado originalmente no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Criou-se, no Brasil, uma camada de monstros.

É gente que lota as seções de comentários dos jornais online para culpar os pobres pelas agressões policiais, sob o argumento de que ‘permitem’ que bandidos vivam em suas comunidades.

Gente que não se comove com a dor estampada no rosto de D. Katia Silene, mãe de Jenifer de 11 anos que morreu baleada em Triagem, quando um grupo de policiais invadiu a rua em que morava, disparando fuzis.

Ninguém viu confronto, mas todos viram o corpo da sua menina.

Mataram-lhe a filha Jenifer, de 11 anos, que descascava cebolas no bar da família, recém-chegada da escola.

Jenifer não conta, D. Katia também não. São gente de segunda ou terceira categoria.

São danos colaterais, irrisórios, de uma “guerra” que só se perde, há mais de 30 anos.

A chacina de Santa Teresa, abonada pela PM, ganhou a chancela do governador do Rio, o do “mirar na cabecinha”.

A menina Jenifer só ganhará o silêncio.

Agir diferente é “não deixar a polícia trabalhar”.

Vivi de perto o parto desta monstruosidade quando Leonel Brizola, em 1983, mandou recolher ao batalhão dois PMs que subiram o Morro do Chapéu Mangueira  o morro atirando a esmo por conta do roubo de uma bolsa.

Uma menina de oito anos, se me lembro bem, morreu como Jennifer, sem nem saber a razão.

Ela não merecia a lei, a tutela do Estado, a Justiça.

Não era minha filha, não era branca, não era de classe média, não era filha de ninguém que importasse.