Vítimas sofrem perda de visão e amputações após explosões de pagers no Líbano

Atualizado em 17 de setembro de 2024 às 23:28
Ambulância no Líbano para socorro de vítimas de explosão de pagers, no meio da rua, perto de pessoas, prédios e outros carros
Ambulância no Líbano para socorro de vítimas de explosão de pagers – Anwar Amro/AFP

Uma série de explosões quase simultâneas de pagers no Líbano, nesta terça-feira (17), resultou em um cenário de pânico em várias regiões do país. Esses dispositivos, amplamente usados para receber alertas e mensagens curtas, provocaram a morte de pelo menos nove pessoas, incluindo uma criança, e deixaram 2.750 feridos. Com informações do jornal O Globo.

O sistema de saúde libanês foi rapidamente sobrecarregado e uma campanha de doação de sangue foi iniciada para ajudar os hospitais. Entre os feridos, 170 estão em estado grave e 500 pessoas perderam a visão, segundo o Ministério da Saúde do Líbano.

Hezbollah acusa Israel e cita ataque coordenado

O grupo Hezbollah, junto a membros do governo libanês, acusou Israel de estar por trás das explosões. Fontes israelenses confirmam que a ordem teria vindo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, mas Israel ainda não fez um pronunciamento oficial.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, não se feriu no incidente, enquanto o embaixador iraniano no Líbano, Mojtaba Amani, sofreu ferimentos leves. Explosões também foram registradas na Síria, onde o Hezbollah mantém operações, com 14 feridos reportados pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Expansão do uso de pagers e suspeita de infiltração

Desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023, o uso de pagers foi ampliado entre os membros do Hezbollah, sendo considerados mais seguros e difíceis de rastrear que celulares comuns. No entanto, o dispositivo, considerado obsoleto, também é amplamente utilizado por profissionais de saúde e serviços de emergência.

Especialistas acreditam que a explosão simultânea dos dispositivos pode ter sido causada por um malware ou falha nas baterias, impedindo que os usuários tivessem tempo de se livrar dos pagers.

Homem em maca doando sangue, cercado de pessoas, na rua
Homem doando sangue – AFP

Ferimentos graves e sistema de saúde sobrecarregado

Segundo o ministro da Saúde, Firass Abiad, os ferimentos mais comuns ocorreram no abdômen, mãos e rosto das vítimas, que estavam utilizando ou carregando os pagers perto do corpo. Vídeos do momento da tragédia mostram pessoas feridas instantaneamente após a explosão dos dispositivos. Relatos de moradores da região indicam que as explosões foram confundidas com tiros, causando ainda mais caos.

Testemunhas descrevem o caos

Ahmad Ayoud, açougueiro em Beirute, relatou que, após ouvir várias explosões, viu um homem de 20 anos cair de uma moto, sangrando. Inicialmente, ele pensou que a vítima havia sido atingida por tiros, mas logo percebeu que muitos outros também carregavam pagers que explodiram.

Em subúrbios com forte presença do Hezbollah, como Haret Hreik, moradores viram fumaça saindo dos bolsos de pessoas, seguida por explosões. Mohammed Awada, de 52 anos, descreveu a cena terrível ao ver a mão de uma vítima ser arrancada pela explosão.

Impacto na população e medo generalizado

O medo tomou conta da população, com muitos libaneses evitando atender ligações, temendo novas explosões. Khadijeh Fouani, que estava em casa preparando alimentos, entrou em pânico ao ouvir o telefone tocar, implorando para que fosse desligado.

A tragédia também expôs a escassez de especialistas para tratar os feridos. O médico Abdulrahman al Bizri informou que há uma falta de cirurgiões oftalmológicos para lidar com o grande número de feridos nos olhos, destacando que muitos precisarão de tratamentos longos e delicados.

A tragédia desencadeou um grande desafio para o sistema de saúde, com inúmeros casos de amputações. Um funcionário de um dos hospitais que acolhe as vítimas revelou que muitos dos feridos perderam dedos, e em alguns casos, todos eles, deixando cenas perturbadoras para as equipes médicas.