“Você deve ter orgulho”: como Lula reagiu à cassação de visto de Lewandowski

Atualizado em 26 de agosto de 2025 às 12:44
Lewandowski e Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou nesta terça-feira (26) que o governo dos Estados Unidos cassou o visto do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A fala ocorreu durante a segunda reunião ministerial do ano, no Palácio do Planalto, e marcou um gesto público de solidariedade ao auxiliar. Segundo Lula, a decisão representa um “ato irresponsável” de Washington, num momento em que as tensões diplomáticas entre os dois países estão em alta.

A medida contra Lewandowski já vinha sendo cogitada pelo governo estadunidense, de acordo com informações antecipadas pela colunista Mariana Sanches, do UOL. Além do ministro da Justiça, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Congresso, também estaria na mira, repetindo a estratégia aplicada anteriormente a ministros do Supremo Tribunal Federal. Essas ações se somam a um conjunto de sanções já adotadas contra autoridades brasileiras, incluindo ex-integrantes do Mais Médicos e familiares do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Na reunião, Lula olhou diretamente para Lewandowski e reforçou a defesa de sua trajetória. “Minha solidariedade e solidariedade do governo a você por conta do gesto irresponsável dos EUA de cassarem o teu visto”, disse. Em seguida, avaliou que o episódio compromete mais a imagem de Washington do que a de Brasília: “Eu acho que é vergonhoso para eles, e não para você. Eles estão deixando de receber uma personalidade da tua competência, da tua capacidade.”

O presidente também afirmou que Lewandowski deve se orgulhar do impacto de sua atuação. “Você deve ter orgulho do que você fez para que os caras tivessem tanto ódio do Brasil a ponto de suspender o visto do nosso ministro da Justiça. Essas atitudes são inaceitáveis, não só contra você, mas contra ministros da Suprema Corte e qualquer autoridade brasileira.”

Durante o encontro, Lula aproveitou para reafirmar o discurso de soberania. Ele determinou que todos os ministros usassem bonés com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, em referência à postura de igualdade que, segundo ele, deve nortear as relações internacionais. “Estamos dispostos a sentar na mesa em igualdade de condições. O que não estamos dispostos é sermos tratados como se fôssemos subalternos. Isso, nós não aceitamos de ninguém”, destacou.

A reunião também serviu para apresentar um balanço da gestão. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, apontou avanços econômicos e sociais, como a queda do desemprego, a redução da fome e a implementação de programas prioritários, entre eles o Pé de Meia, voltado à educação. O formato inicial, que previa falas de todos os ministros, foi alterado, e apenas a cúpula principal discursou.

Ficou definido ainda que serão realizadas cinco reuniões setoriais até o final do ano, divididas por áreas específicas. Nessas ocasiões, cada ministro terá espaço para apresentar um relatório detalhado do que foi feito até agora e os planos para os próximos meses.

O encontro começou às 10h, no Palácio do Planalto, e reuniu todos os 38 ministros. A expectativa é que se estenda até a tarde, consolidando a estratégia do governo de reforçar entregas e, ao mesmo tempo, reagir de forma firme ao endurecimento das medidas vindas de Washington.

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.