Voto de Luiz Fux no julgamento de Bolsonaro é maior que “Os Lusíadas”

Atualizado em 13 de setembro de 2025 às 17:05
O ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux. Foto: Andressa Anholete/STF

O julgamento que condenou Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado expôs estilos bem distintos entre os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Alexandre de Moraes, relator do caso, adotou um tom incisivo e repetiu mais de cem vezes a expressão “organização criminosa”, enquanto Luiz Fux fez um voto de 11 horas e meia, recheado de citações acadêmicas e expressões em latim. Já Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia preferiram sustentações mais curtas e objetivas.

O voto de Moraes, que abriu o julgamento, teve quase cinco horas e destacou frases ditas por Bolsonaro em eventos e discursos, reforçando a tese de ameaça ao Judiciário. Ele usou repetição como recurso de ênfase, chegando a repetir quatro vezes a expressão “último recado” atribuída ao ex-presidente em 2021. Também rebateu a defesa dos réus, acusando-a de litigância de má-fé por tentar confundir depoimentos de Mauro Cid.

Flávio Dino, segundo a votar, apresentou o discurso mais enxuto. Defendeu a condenação dos oito réus, mas fez ressalvas ao considerar menor a participação de Alexandre Ramagem, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira. Citou ministros do STF, jurisprudências e o filósofo Karl Loewenstein, mas evitou longas leituras, diferentemente de Fux.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux. Foto: Andressa Anholete/STF

Luiz Fux destoou dos colegas ao absolver Bolsonaro. Sua sustentação ultrapassou em palavras obras clássicas da literatura, como “Os Lusíadas”. Citou mais de 27 autores, entre eles Cesare Beccaria e Luigi Ferrajoli, além de recorrer frequentemente ao latim. Para justificar a absolvição, usou o conceito de que não se pode punir a “cogitação”, ou seja, o simples planejamento de um crime sem execução.

Cármen Lúcia preferiu um estilo mais sucinto e mesclou referências literárias e históricas, como Maquiavel, Victor Hugo e Afonso Romano de Santana. A ministra trouxe ainda momentos de leveza, como a menção a uma piada sobre Alexandre de Moraes e harmonização facial, além de um comentário feminista sobre o direito das mulheres à fala no plenário.

Cristiano Zanin concluiu os votos com sustentação também breve, citando juristas como Claus Roxin e Norberto Bobbio para defender a condenação. A análise da sessão mostra que, enquanto Moraes buscou impacto político e jurídico em sua retórica, Fux se apoiou em referências clássicas, e os demais ministros preferiram discursos diretos, evidenciando diferentes estilos dentro da Corte.