“Vou lá e questiono”: Janja fala sobre sua influência na gestão do marido

Atualizado em 5 de novembro de 2023 às 9:52
Janja da Silva em ensaio para Bob Wolfenson. Foto: Bob Wolfenson

Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, primeira-dama do país, concedeu entrevista à edição deste domingo (5), à revista Ela, de O Globo. Confira trechos:

O Globo: Antes de o presidente Lula assumir, você dizia querer ressignificar o papel de primeira-dama. Conseguiu fazer isso?

Janja: O papel de primeira-dama sempre foi muito quadrado, colocado numa caixa em que a mulher do presidente recebe pessoas e faz caridade. Eu sou socióloga e nunca fui de gabinete. Ia para o campo. Achava que podia trazer essa experiência para cá. Querendo ou não, quase tudo que falo ganha amplitude. Por que não fazer isso por pautas que são relevantes? Mais mulheres na política, violência contra a mulher, exploração sexual de crianças e adolescentes… Isso é mais importante do que ficar só fazendo jantar ou chá das cinco. Por que a primeira-dama não pode também estar contribuindo com o desenvolvimento do Brasil? Continuo indo ao supermercado e à farmácia, e as mulheres me dizem que eu estou no caminho certo. O presidente sempre disse para mim: “Você vai fazer o que achar que tem que fazer”. (…)

Como tem aproveitado a posição de primeira-dama para ampliar a presença de mulheres na política?

Na campanha, falava com a Gleisi (Hoffmann, presidente do PT): “Está difícil, precisamos de mais mulheres”. Já nos recusamos a sair na foto como cota. Na transição, falamos de mais mulheres nos ministérios. Isso de alguma forma foi atendido. Passamos (ela e o presidente) os fins de semana a sós e conversamos muito. Às vezes, a gente tem umas discussões um pouco mais assim… fortes. Mas é isso. Tivemos duas perdas (de mulheres) no governo. Faz parte (a entrevista foi realizada na véspera da terceira perda, a demissão de Rita Serrano da presidência da Caixa). É necessário discutir a participação feminina no Congresso. O Brasil está em penúltimo lugar na América Latina e no Caribe em número de mulheres no Parlamento. Isso é vergonhoso. Precisamos ter 50% de cadeiras. A cota de 30% (de candidaturas) não está adiantando. As agressões que as mulheres sofrem, nas redes sociais e pessoalmente, têm feito muitas desistirem de seguir na política. (…)

Janja em ensaio para O Globo. Foto: Bob Wolfenson

O que diria a quem afirma que, por não ter sido eleita, não deveria se meter em política?

Não me incomoda. Quem faz essa crítica não enxerga o mundo em que a gente vive hoje. Vou continuar ao lado do presidente, porque acho que é esse o papel que tenho que desempenhar. Não é uma questão de ser eleita ou não. Existem ministros que concorreram e ganharam a eleição ao Senado ou à Câmara, mas a maioria não foi eleita e está lá. Falam muito de eu não ter um gabinete, mas precisamos recolocar essa questão. Nos EUA, a primeira-dama tem. Tem também agenda, protagonismo, e ninguém questiona. Por que se questiona no Brasil? Vou continuar fazendo o que acho correto. Sei os limites. Eu quero saber das discussões, me informar, não quero ouvir de terceiros. Falaram que fui a única primeira-dama que entrou com o presidente no dia da reunião do G-20. Entrei porque ele não soltou da minha mão e falou: “Você está comigo e vai entrar comigo”. Eu me sinto segura. (…)

Como é ser a única voz feminina no entorno do presidente?

Há pouquíssimas mulheres mesmo, mas, veja bem, não participo das reuniões do presidente Lula. O povo acha que eu fico lá sentada. Não faço isso. Todo dia, ele tem uma reunião com os ministros do Palácio do Planalto, mas não estou nesses espaços de decisão. Minhas conversas com o presidente são dentro de casa, no nosso dia a dia, no fim de semana, quando a gente toma uma cerveja. Quando estou incomodada, eu vou lá e questiono. Não é porque eu sou mulher do presidente que vou falar só de marca de batom. (…)

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram,clique neste link