Vou ser presidente de uma confederação de esportes

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:20

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Agora é oficial: o governo acaba de limitar o mandato dos presidentes de entidades esportivas, como federações e confederações, a duas reeleições, ou seja, no máximo oito anos — e quem desobedecer perde o direito a verbas de incentivo e a isenção fiscal.

Preocupado com a minha vida profissional e financeira, fiquei pensando… por que não me candidatar a ser o presidente de uma confederação? Deve ser muito bom. O Coaracy Nunes, presidente da Confederação de Desportos Aquáticos (CBDA), está nessa há 25 anos. O Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) , está há 18 anos. E não há presidente que queira largar o osso.

Então liguei para meu amigo Frederico Wilche, o Fred, que é presidente da pobre federação paulista de triathlon. Ele me explicou como proceder para ser presidente de uma entidade dessas.

É fácil. Pegue um esporte que ainda não esteja organizado. Ocorreu-me cuspe à distância.  É preciso o apoio de três entidades (clubes, por exemplo, ou mesmo associação de bairo) para formar uma federação de nível estadual. Com elas,você cria um estatuto (baixa da internet), registra em cartório e se elege presidente. É isso.

Mas ser presidente de federação é pouco, não rende tanto. Melhor é confederação, de nível nacional. Basta fazer o mesmo em três estados e, com o voto, já combinado, dessas federações, elege-se presidente de Confederação.

Dessa maneira serei praticamente o dono do cuspe à distância. Minha confederação é a representante oficial do esporte. Só eu posso realizar campeonatos brasileiros, copas do Brasil e competições oficiais em geral. Clubes e atletas devem se filiar à minha confederação para serem reconhecidos — e pagar taxas que eu determinar. Empresas que querem ligar sua imagem a esse esporte patrocinam eventos e competições que eu organizar — e, claro, a contabilidade está toda em minhas mãos. Mais ainda: tenho que fazer gestões políticas para ser reconhecido pelo COB, que pode me repassar verbas públicas provenientes da Lei Agnelo/Piva.

Fui olhar o site do COB. No relatório mais recente, Nuzman, que é o presidente, recebeu em 2010, mais de 140 milhões de reais. Claro, ele não enfia no bolso. Tem uma série de obrigações, como, por exemplo, fomentar esportes olímpicos, investir na educação esportiva, bancar projetos e pagar as contas da entidade —  que, em 2010, consumiu cerca de 27 milhões de reais, gastos em salários e outras despesas. O COB também precisa distribuir uma parte dessa grana para as confederações, de acordo com alguns critérios técnicos e políticos. Esportes que rendem mais medalhas e títulos, recebem mais.

Mas aqueles presidentes que têm direito a voto e podem garantir a reeleição de Nuzman são, digamos, melhor atendidos em suas reivindicações. Fred me disse que a Confederação de Triathlon recebe “apenas” 2 milhões de reais por ano (e não repassa, nem pode, às federações). Mas, qualquer que seja a quantia, o presidente tem total liberdade para gastar — em viagens, aluguel da sede, centros de treinamento, salários, o que for necessário e desejado.