Waack e o Wikileaks

Atualizado em 14 de junho de 2013 às 12:07
WW

Coincidência.

Eu queria escrever sobre o Wikileaks quando soube que o Twitter no Brasil foi inundado pelo nome de William Waack, jornalista da Globo. Segundo vazamentos do Wikileaks, Waack seria “informante” do governo americano. (Minha intenção era lamentar os apuros financeiros do Wikileaks, a coisa mais interessante que apareceu no jornalismo nas últimas décadas.)

Pesquisei, na medida de minhas possibilidades de time de um homem só, sobre o caso WWW — Wikileaks versus William Waack.

Ora. O que existe de concreto é algo de intensa, quilométrica banalidade. Diplomatas americanos no Brasil estiveram com Waack na época da campanha eleitoral que seria vencida por Dilma. Colheram sua opinião e sua visão – turva a primeira, erradíssima a segunda, é verdade  – e mandaram para Washington.

Extrair alguma coisa daí é querer absurdamente forçar uma situação.

Disse que era turva a opinião e explico. O telegrama que li fazia menção de um debate de candidatos no qual Waack teria dito, entre outras coisas, que Ciro Gomes era o mais “preparado”. Ver em Ciro Gomes um exemplo de preparo revela uma obtusidade irremediável. Os brasileiros cometeram um erro parecido com Collor, levados por uma embalagem que escondia o conteúdo. Errar mais uma vez seria imperdoável. Mas Waack conseguiu.

A visão “errada” é que na televisão Dilma tropeçaria. Não foi o que aconteceu. Você pode gostar ou não de Dilma, mas é inegável que na televisão ela se saiu muito bem: firme, em nenhum momento pareceu intimidada com as câmaras ou com Serra. Se falhasse, perderia as eleições.

Waack falou como torcedor, não como analista. Mas também não como “informante”.  Essa forcação parece mostrar o quanto ele é rejeitado, detestado por uma parcela da sociedade – aquela que tuíta.

Waack é uma espécie de Galvão do jornalismo político.

Mais fora do contexto foi a inclusão, em parte da gritaria, de Helio Gurowitz, diretor de redação da Época. Helio é um jornalista sério, honesto, íntegro. Tecnicamente, é excelente. Se não bastasse tudo, tem a virtude da discrição. Fui eu que o levei para a Época, e jamais me arrependi da escolha.

Ao contrário de Waack, no telegrama que li Helio aparece dando uma opinião inteligente, extraída também de uma conversa rotineira com a diplomacia americana. Ele compara o Brasil ao Chile, em que a alternância no poder acabou por se tornar um dado da vida. Palmas. Helio ajudou os americanos a entender melhor a cena brasileira. Waack, com seu direitismo obtuso, atrapalhou.

Ele pode ser acusado de ser um mau analista – mas daí a a ser “informante” do governo americano  vai uma imensa distância.