
Wagner Moura foi recebido com aplausos no Recife durante a estreia nacional de “O Agente Secreto” e aproveitou a passagem pelo Brasil para comentar a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF. Em entrevista à BBC News Brasil, o ator afirmou que, nos Estados Unidos, onde vive há sete anos, percebeu “tristeza” e até “inveja” entre os americanos ao verem as instituições brasileiras julgando crimes contra a democracia.
Moura se referia ao processo que resultou na condenação de Bolsonaro e outros sete integrantes de seu governo por tentativa de golpe de Estado. O ator comparou a situação com a vivida nos EUA, onde Donald Trump, apesar de ter sido acusado de incitar uma rebelião após perder as eleições de 2020, foi absolvido e voltou ao poder em 2024. Segundo ele, o contraste entre os dois países é evidente.
Vivendo em Los Angeles com a esposa e três filhos, Wagner Moura também criticou a política migratória de Trump, que, em sua visão, promove perseguições raciais contra imigrantes sem documentos. “É um horror, eu conheço muitos imigrantes ilegais. As pessoas estão com medo, porque atacam na rua por identificação visual e racial”, disse. Para o ator, os EUA hoje apresentam “tendências autoritárias evidentes”.

Além de comentários políticos, a estreia no Recife marcou o retorno de Moura ao cinema brasileiro após 11 anos. Em “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, ele interpreta Marcelo, um professor viúvo que tenta fugir da ditadura com o filho. O filme já passou por festivais em Toronto, Polônia, Austrália e Nova Zelândia, depois de conquistar prêmios de melhor ator e diretor em Cannes.
Moura ressaltou que o longa nasceu de um período turbulento para artistas, universidades e imprensa, entre 2018 e 2022, durante o governo Bolsonaro, marcado por cortes de verbas e ataques ideológicos. Para ele, a obra reflete debates sobre abuso de poder e ameaças à democracia, mas também dialoga com o momento atual de fortalecimento institucional no Brasil.
O ator afirmou estar orgulhoso de voltar a filmar em português e destacou o simbolismo da condenação de Bolsonaro. “É tão bonito ver que hoje, finalmente, o Brasil está reencontrando-se com sua memória”, disse, em referência à superação da Lei da Anistia de 1979, que perdoou crimes cometidos durante a ditadura militar.