Wagner Moura é a força e a fraqueza de “Narcos”. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 12 de setembro de 2016 às 8:30
Moura
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(Este texto contém spoilers)

 

No início, Narcos dividia sua história entre o narcotraficante Pablo Escobar, interpretado por Wagner Moura, e os dois policiais do DEA, departamento de combate a narcóticos dos EUA: Steve Murphy (Boyd Holbrook) e Javier Peña (o chileno Pedro Pascal, o Oberyn Martell de Game of Thrones).

A segunda temporada mantém o mesmo estilo narrativo, mas muda consideravelmente de foco. Quem conta a história é ainda Murphy, o norte-americano que conseguiu matar Escobar. Mas a dramatização se volta ao traficante de drogas, dando maior destaque ao trabalho de Wagner Moura.

Por essa mudança de perspectiva, Narcos perde o seu teor documental, que misturava imagens do Pablo Escobar real com o seriado, e ganha um tom mais pessoal. E não se vê mais o dedo do brasileiro José Padilha no seriado, que dirigiu os dois primeiros episódios de 2015.

O enredo principal inicia-se na fuga de Escobar da prisão que construiu para si mesmo em La Catedral. Subornando o exército, o narcotraficante mais procurado da Colômbia desaparece em Medellín, mas mantém o seu poder e influência na capital.

Inicia-se uma verdadeira caçada ao homem em duas frentes. Uma delas é o Cartel de Cali, que é rival nas drogas e reúne as forças de Judy Moncada, esposa de um dos homens assassinados por Escobar na prisão, e dos irmãos Fidel Castaño (Rambo) e Vicente Castaño, da facção ultradireitista Los Pepes – sigla para “Perseguidos por Pablo Escobar”. A outra frente é dos policiais do DEA apoiados pelo exército, sobretudo por Horacio Carrillo, e pelo presidente colombiano César Gaviria.

Os episódios resumem então uma verdadeira guerra que aconteceu na Colômbia entre 1991 e 1993. À medida em que Pablo Escobar vai sendo encurralado, ele se torna mais perigoso para todos os seus rivais, fazendo inclusive atentados a bomba que mataram dezenas de inocentes. Do lado oposto, Carrillo chega a assassinar um menor de idade que atuava como informante de Escobar para provocar o traficante. O conflito se estabelece na bala, na venda de cocaína e na briga dentro da mídia.

Escobar tenta negociar uma rendição mansa com o presidente Gaviria com cartas públicas, mas não tem sucesso. Também tenta liquidar o Cartel de Cali, utilizando sobretudo os milhões de dólares que escondeu por toda a Colômbia, mas não consegue.

Nos três episódios finais, Wagner Moura dá alma ao narcotraficante. Refugiado, barbudo, perdendo dinheiro e com seus capangas morrendo, Escobar refugia-se na casa do próprio pai, numa fazenda do interior colombiano, e descobre porque quis se tornar o sétimo homem mais rico do mundo. Ele não se conformou em ser apenas um menino pobre e conformado, na versão do seriado.

“As mentiras são necessárias quando a verdade é muito difícil de crer”, diz Pablo Escobar quando se aproxima do seu fatídico fim. “A decadência é lenta, mas torna-se rápida no final”, complementa Murphy no último capítulo.

Escobar foi morto com dois tiros numa perseguição em Medellín nas costas e na perna. Um terceiro tiro de pistola foi executado na orelha e não se sabe quem o fez – a polícia ou se ele teria se matado para abreviar o sofrimento. Narcos abraça a tese que o próprio DEA teria feito o disparo de misericórdia.

Na foto do narcotraficante morto, é o narrador Steve Murphy que aparece junto de oficiais colombianos. Javier Peña foi afastado do caso.

Os roteiristas decidiram não terminar Narcos com o assassinato de Escobar. Gilberto Rodríguez Orejuela se torna o novo rei da cocaína a partir de Cali na história elaborada pela Netflix.

Narcos volta em 2017. A dúvida é se o seriado terá a mesma alma que Wagner Moura deu ao seu Pablo Escobar até a morte do personagem.