Wagner Moura e Kleber Mendonça desenterram os fantasmas do Brasil com ‘O Agente Secreto’

Atualizado em 12 de novembro de 2025 às 10:06

Wagner Moura é a estrela do thriller político “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho. Vindo de uma trajetória internacional de grande notoriedade, com prêmios em Cannes, o filme conquistou ao menos quatro prêmios no festival francês: Melhor Direção, Melhor Ator, o prêmio da crítica internacional (Fipresci) e o “Art et Essai”, concedido por exibidores independentes da França entre inúmeras indicações.

O longa-metragem é dividido em três partes, com mais de 2 horas e 38 minutos de duração, mantendo a plateia magnetizada, grudada nas cadeiras, entre referências a Fellini e uma mescla de fantasia e surrealismo, contrastando com a crueza e a violência típicas de narrativas dignas de Sam Peckinpah.

Kleber Mendonça Filho, filho de uma historiadora, tem em sua formação a preocupação historiográfica com sua origem e o meio cultural em que vive. Sua cidade natal, Recife, os cinemas da cidade e suas particularidades culturais são fundamentais em seu trabalho. Formado em jornalismo, atuou como crítico de cinema até se consolidar como um dos maiores realizadores do cinema nacional.

Ele é casado com a cientista política e produtora cinematográfica francesa Emilie Lesclaux, que é uma colaboradora fundamental em seus projetos, atuando como produtora em diversos filmes, incluindo “O Som ao Redor”, “Aquarius”, “Bacurau”, “Retratos Fantasmas” e “O Agente Secreto”.

Juntos, fundaram em 2008 o Janela Internacional de Cinema do Recife, um festival que se tornou um importante espaço para a difusão e debate cinematográfico, do qual são diretores artísticos. Kleber também atua como programador de cinema no Instituto Moreira Salles (IMS) no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O filme mescla suspense e memórias de um período obscuro de nossa história recente, mergulhando no Recife da infância de Kleber, uma cidade que sempre abrigou, nesse microcosmo, as contradições e desigualdades brasileiras, que se expõem claramente numa narrativa de opressão e medos da ditadura militar.

Já escolhido para representar o cinema nacional no Oscar 2025 em Hollywood, Kleber Mendonça Filho, diretor reconhecido por obras como “O Som ao Redor”, “Aquarius”, “Bacurau” e “Retratos Fantasmas”, vê isso como um reforço à sua trajetória de presença internacional, embora suas tentativas de indicação até então não tivessem se concretizado.

O longa-metragem encanta pela recriação de um Recife dos anos 70 em seus mínimos detalhes, retratando os cinemas e as características urbanas. “O Agente Secreto” conta com uma direção de arte excelente, assinada por Thales Junqueira, e o figurino de Rita Azevedo Gomes.

Em determinados momentos, talvez intencionalmente, Wagner Moura, com cabelos longos e desalinhados, se transforma numa versão nacional de Che Guevara, exibindo uma atitude e presença cênica impressionantes, conferindo uma veracidade incomum aos dramas de Marcelo, codinome de seu personagem Armando, que busca reconstruir sua vida após um trauma familiar e a busca por seu filho, sob a tutela dos avós maternos na capital pernambucana.

A personificação dos atores e a condução precisa, destacando a fantástica Tânia Maria como Dona Sebastiana, são costuradas pela excelência da trilha sonora. O filme apresenta um frescor e uma assinatura muito peculiares na direção de Kleber Mendonça, que sabe extrair, mesmo das situações mais corriqueiras, uma dramaticidade e um humor característicos de seus trabalhos cinematográficos.

Como disse Wagner Moura em uma observação precisa: “É um filme absolutamente brasileiro”.

Roger Worms
Roger W. Lima é músico, escritor e designer (https://www.facebook.com/roger.w.lima?fref=ts)