Washington Post: mutações do coronavírus no Brasil são “ameaça ao mundo todo”

Atualizado em 5 de março de 2021 às 9:10
Enterro de vítima do coronavírus no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo (SP) (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

O Washington Post, um dos jornais mais importantes dos EUA, publicou um editorial alertando sobre as variantes do coronavírus que têm surgido no Brasil. O artigo diz que as novas mutações da doença, como a P.1, que parece ser mais transmissível, são uma “ameaça ao mundo todo”.

De acordo com o jornal, o maior culpado pelo momento desesperador vivido pelo Brasil é o presidente Jair Bolsonaro, que “rejeitou esforços para combater o que ele chama de ‘gripezinha’ e apoiou remédios inúteis como a hidroxicloroquina”.

Leia alguns trechos abaixo:

O Brasil está cambaleando com a pandemia do coronavírus e sua agonia deveria ser um alerta para o mundo. Quando o vírus está se espalhando sem controle e sofrendo mutações como no Brasil, ele representa um perigo potencial para todos os lugares. O aumento repentino no Brasil deu origem a uma nova variante conhecida como P.1 que parece ser mais transmissível e pode ser capaz de superar os anticorpos naturais. Até agora, 10 casos em cinco jurisdições foram detectados nos Estados Unidos, mas mais podem estar por vir.

Como relata Terrence McCoy, do Post, o número de mortos no Brasil bateu um novo recorde, com média de 1.208 por dia na semana passada, e atingiu um recorde histórico na terça-feira. No total, 259.271 pessoas morreram. Os sistemas de saúde em mais da metade dos 26 estados do país estão próximos da lotação. O presidente Jair Bolsonaro rejeitou esforços para combater o que ele chama de “gripezinha” e apoiou remédios inúteis como a hidroxicloroquina. O país foi consumido por divisões internas e parece incapaz de sair do abismo; sua campanha de vacinação está sofrendo com escassez e atrasos. Tal como aconteceu com o ex-presidente Donald Trump, o vácuo de liderança de Bolsonaro deu ao vírus uma abertura para se espalhar, especialmente a partir de reuniões em massa durante as eleições de novembro, em seguida, os feriados e, finalmente, as celebrações do carnaval.

A ameaça mais preocupante vem de Manaus, a maior cidade da região amazônica, onde a nova variante P.1 aparentemente foi gerada. Agora está se espalhando pelo Brasil. Pesquisas preliminares sugerem que a variante carrega 17 mutações do coronavírus original, três delas na proteína spike usada para invadir células humanas. Acredita-se que a nova variante, como algumas outras, seja entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível. Mas há outro aspecto que preocupa os pesquisadores.

No final de abril de 2020, uma grande epidemia atingiu o pico em Manaus, e as hospitalizações na cidade permaneceram estáveis e bastante baixas de maio a novembro, apesar do relaxamento das medidas de controle durante esse período, de acordo com um comentário publicado na revista The Lancet. Um estudo com doadores de sangue mostrou que 76% da população havia sido infectada em outubro de 2020, um valor acima do limite teórico de 67% para imunidade natural de rebanho. (…)

O que acontece no Brasil não fica no Brasil. Como o epidemiologista Miguel Nicolelis, da Duke University, disse ao Post, “Se o Brasil não controlar a doença, será o maior laboratório aberto do mundo para o vírus sofrer mutação”. Isso é um problema para todos.