Wassef alega perseguição da CPI e pede para depor na comissão

Atualizado em 21 de agosto de 2021 às 18:37
Fred Wassef. Foto: Reprodução/Globo

A decisão da CPI da Covid-19 de quebrar os sigilos fiscal e bancário de Frederick Wassef deixou indignado o advogado do presidente da República, Jair Bolsonaro, e de dois de seus filhos, Flávio e Renan.

Ele alega que as justificativas apresentadas pela comissão para acessar seus dados sigilosos são mentirosas e que está sendo vítima de uma perseguição que tem por objetivo atingir seu cliente mais famoso e poderoso.

A revolta de Wassef

A quebra dos sigilos de Wassef foi uma decisão do relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), para quem o advogado pode ter recebido recursos da empresa Precisa Medicamentos na assinatura do contrato para a compra da vacina indiana Covaxin.

Em entrevista concedida ao vivo à TV ConJur na noite de sexta-feira (20/8), Wassef negou qualquer ligação com a Precisa ou mesmo com o Ministério da Saúde, sendo, segundo ele, um despropósito a citação de seu nome em uma comissão que investiga possíveis irregularidades cometidas pelo governo federal durante a crise da Covid-19.

Ele disse o seguinte:

“É uma atrocidade, uma aberração o que está acontecendo. Trata-se de uma ameaça à democracia, de uso indevido da máquina pública para perseguir e tentar incriminar via fraude alvos escolhidos a dedo para fins ideológicos e políticos.

Estou sendo vítima de uma farsa, uma fraude, a CPI é uma grande fraude. 

Não sou investigado, nunca tinha ouvido falar de Precisa, nem de qualquer desses personagens investigados na CPI.

Não faço parte do governo, nunca pisei no Ministério da Saúde, nunca advoguei para qualquer cliente que tivesse qualquer ligação com a área da saúde.”

Críticas à CPI

O advogado de Bolsonaro se disse particularmente indignado com Renan Calheiros. O motivo: o senador alagoano se queixa há anos de ser vítima de perseguição arbitrária pela autodenominada força-tarefa da “lava jato”, mas agora, segundo Wassef, usa contra ele os mesmos métodos.

O que diz Wassef:

“O que ele está fazendo é contra ele próprio, contra a classe dos senadores, a classe dos políticos, todos aqueles que sofreram ilegalidades com esse mesmo modus operandi, que é pegar informações financeiras e transformar aquilo em crime, e a pessoa que passe dez anos tentando provar que não cometeu crime.

É uma inversão o que ocorre no Brasil. Isso me causa choque, tenho documento assinado pelo senador Renan em que ele afirma que há relação monetária entre eu e a Precisa, o que é uma mentira.”

“Gostaria de conversar com o senador e saber de onde ele tirou essas coisas”.

Por falar em “lava jato”, Wassef diz que os métodos da CPI são ainda mais nocivos ao Estado democrático de Direito do que os do consórcio de Curitiba.

“Eles (senadores da CPI) não estão iguais, estão piores. Na ‘lava jato’ se intimava as pessoas, se dava oportunidade para haver debate, para as pessoas se explicarem diante de juízes e procuradores.

A CPI superou (a ‘lava jato’) em muito, e está aqui o meu caso como exemplo. Nunca vi isso em nenhuma investigação”.

Planos do advogado

Se os planos de Wassef derem certo, seu encontro com Renan Calheiros ocorrerá na própria CPI, pois o advogado de Bolsonaro afirma desejar ser ouvido pelos senadores que compõem a comissão.

O advogado dos Bolsonaro declarou o seguinte:

“Quero que me convoquem, quero ir lá mostrar a verdade, mas sei que eles não vão me convocar.

Por isso estou peticionando à Justiça um pedido para ir à CPI, onde vou ter todo o tempo para limpar meu nome e minha imagem.

Essas pessoas são assassinas de imagens de inocentes”.

Ele que garantiu não temer ouvir voz de prisão dos senadores durante seu depoimento, como ocorreu com alguns personagens que sentaram-se na cadeira localizada ao lado do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-M).

Wassef disse ainda:

“Zero (medo). Vou lá só para falar a verdade.

Não tenho postura de confronto, não estou atacando os senadores, estou apenas narrando a verdade, que sou vítima de fraudes e mentiras”.

Publicado originalmente no Consultor Jurídico (ConJur)

Por Mateus Silva Alves

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