Wassef, que escondeu Queiroz, já foi intimado por pancadaria na praia com o ex da mulher

Atualizado em 16 de julho de 2020 às 9:08

No dia 13 de dezembro de 2012, Frederick Wassef compareceu a uma delegacia em São Paulo, após receber intimação para esclarecimentos sobre episódio narrado por Jacques Nehmetalla Kfouri.

Kfouri estava identificado nos autos como vítima enquanto Wassef, em seus esclarecimentos, relatou que o homem era apenas mais uma testemunha do fato ocorrido alguns meses antes daquele mesmo ano.

Na praia de Pingo D’Água, em Angra dos Reis (RJ), uma briga generalizada acabou com a paz de muitos banhistas.

Wassef afirmou no depoimento que estava em um barco enquanto a esposa, Maria Cristina Boner, que estava na praia, repentinamente passou a ser agredida por um homem. O homem era o ex-marido, Antonio Bruno Basso.

O advogado declarou ter ido até a praia socorrer Maria Cristina e “impedir uma tragédia”. Afirmou que isso foi possível graças à ajuda de vários banhistas, entre eles Kfouri (que a todo momento é classificado no boletim de ocorrência como “vítima”). Depois disso, Wassef disse ter conseguido escapar das agressões e dirigiu-se até a delegacia em Angra dos Reis para relatar os fatos e solicitar a prisão de Antonio Bruno Basso.

Com sua costumeira narrativa confusa, Wassef declarou então que já não era mais apenas o ex de sua esposa que havia partido pra cima e sim Basso e “mais alguns homens”.

Com histórico violento, Antonio Basso precisava respeitar determinação judicial amparada na lei Maria da Penha de manter distância de Maria Cristina, é fato. Já o porque de ter descumprido essa decisão e ainda acompanhado de uma gangue, Wassef declarou não ter conhecimento.

Mas assegurou ao delegado paulista que Basso era pessoa “perigosíssima, inteligente, ardilosa, que de forma implacável e obsessiva” vinha perseguindo a ele e sua esposa. Disse que Basso perseguia, monitorava, ameaçava e extorquia o casal desde 2008.

O ex-marido de Maria Cristina, com denúncias no Rio e em Brasília, havia sido condenado a 5 anos e 8 meses por extorsão, mas estava em liberdade provisória. Segundo Wassef, Basso possui contra si diversos inquéritos policiais, processos criminais e queixas crime.

Para contextualizar o que dizia, Wassef mencionou ainda que o irmão de Basso, Luciano, respondia a inquéritos por pedofilia, falsificação de remédios e lesão corporal.

Tudo gente boa que orbita em torno dos Bolsonaro, não? Essas são as pessoas do círculo social do advogado que tem procurações da família Bolsonaro em peso.

Também para contextualizar a troca de socos em Angra dos Reis, precisamos então lembrar:

Maria Cristina Boner era sócia de Basso em uma empresa (a TBA Informática que representava a Microsoft) que já faturava alto num esquema de corrupção no governo do Distrito Federal. Eles mantiveram diversos contratos sem licitação durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo investigação da Polícia Federal, Cristina pagava propina para manter os contratos do governo com sua empresa. Vários vídeos foram divulgados na época. O esquema levou à prisão o ex-governador José Roberto Arruda.

Investigado, o casal se desfez, a empresa também. Maria Cristina montou a Globalweb Outsourcing e continuou faturando alto (só no desgoverno Bolsonaro a empresa já recebeu 41 milhões e ainda teve perdoada uma multa por não cumprir prazos contratuais para entrega de serviços).

Portanto, é pouco provável que a pancadaria na praia envolvendo marido, ex-marido e esposa tenha sido motivada por questões passionais.

Aliás foi Basso quem delatou o esquema que envolvia a TBA, o governador José Roberto Arruda e o vice Paulo Octávio. O ex-marido de Maria Cristina confidenciou a interlocutores que, em troca de apoio financeiro “informal” à campanha de 2006, empresas de informática acertaram com Arruda e Paulo Octávio uma divisão de contratos públicos. Um jornal tornou pública a informação e o caso explodiu.

Maria Cristina Boner tem curiosa relação com seus ex-maridos. No dia de ontem ficamos sabendo que Queiroz, o protegido de Wassef, esteve escondido também em um endereço de Maria Cristina, um apartamento em São Paulo.

Mensagens encontradas nos celulares apreendidos da família Queiroz pela PF revelam que no final do ano passado Queiroz enviou um texto por whatsapp para esposa, Márcia Oliveira de Aguiar, em que afirmava estar indo “para a casa do Anjo” (apelido de Wassef junto aos milicianos e bolsonaros). Pouco depois, Queiroz mandou enviou uma foto do local. Era o apartamento de Maria Cristina.