Weintraub passou no concurso da Unifesp porque era o único candidato

Atualizado em 7 de fevereiro de 2020 às 15:33

Publicado na Rede Brasil Atual

Abraham Weintraub. Foto: Agência Brasil/EBC

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem problemas que vão além das deficiências no domínio da linguagem escrita, como escrever “imprecionante”, “paralização” e “suspenção”. É incoerente, confuso e desarticulado no discurso, segundo professores integrantes da banca que o selecionou para a vaga de professor no curso de Contabilidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Osasco, em 2014.

Weintraub foi aprovado devido à falta de concorrentes. O processo seletivo não atraiu concorrentes devido ao salário considerado baixo, de cerca de R$ 4 mil reais, e que tinha grau baixo de exigência, segundo os professores ouvidos pela revista Época.

Sob condição de anonimato, eles contaram à publicação que, mesmo sendo o único candidato à vaga, Weintraub teve um desempenho limítrofe, obtendo média 7. Da banca formada por cinco examinadores, um o reprovou, com nota 6, três o avaliaram com um 7, a nota mínima, e um último deu 8. Para se ter uma ideia do vexame, candidatos que não conseguiram se classificar em outros 32 concursos promovidos na época obtiveram médias mais altas.

Em uma das questões principais da prova didática, o candidato tinha de apresentar um exemplo de aula. No entanto, Weintraub escolheu um tema sobre o qual não conseguiu desenvolver. Ou seja, discorreu sobre uma questão completamente diferente.  “Confuso, tema e conteúdo divergentes. Confuso, bombástico, sem sustentação. Grandes saltos sem linearidade”, anotou um professor. Sobre a prova escrita, disse: “Expôs vários conceitos coerentemente, mas esparsos e desarticulados”.

Sem sustentação

“Tema sem sustentação científica idônea. Não houve linearidade no discurso”, analisou um dos integrantes. “Não tem sustentação. Não há linearidade no discurso. Falta de coesão”, escreveu outro professor. “A exposição do candidato não tem sustentação e é muito vaga. A exposição não é linear e o candidato usa conceitos sem explicá-los. Mostra conhecimento e abrangência, mas não apresenta um texto coeso e claro”, anotou um integrante da banca no formulário de avaliação ao qual a revista teve acesso.

“Ele era uma pessoa que, em vez de falar coisas como ‘a empresa ficou insolvente’, falava ‘ela foi pelo ralo’, coisas desse tipo. Quando eu vi a entrevista depois que ele foi indicado para o ministério, percebi que aquele era o jeito dele mesmo”, disse um professor à publicação. “É uma idiossincrasia estrutural dele. Ele enuncia um tema e faz digressões recorrentes, cheias de outros conteúdos. Nada linear”.

Houve críticas, unânimes, também quanto à objetividade e clareza do então candidato a professor:“Confuso, bombástico, sem sustentação”. E também quanto à sua incapacidade de atender requisitos para o cargo. Entre eles, produção científica. Seu currículo na plataforma Lattes, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostra apenas quatro artigos publicados em periódicos.

E revela outro aspecto interessante: o ministro esconde sua atuação como professor da Unifesp no destaque do currículo. Em compensação, destaca sua trajetória no mercado que ele defende tão bem.