POR GUSTAVO CONDE
Com todo respeito aos icebergs, o William Waack é apenas a ponta de um deles. A Globo é a uma das instituições mais racistas de toda a história do Brasil. A Maju, na previsão do tempo, é quase um pedido de desculpas antecipado, é para disfarçar o padrão branco de qualidade da “vênus platinada”.
A “teledramaturgia” da Globo sempre relegou o negro à extensão de seu papel social no Brasil: secundário, coadjuvante, escravo. O livro do Ali Kamel – “Não Somos Racistas” – é um sintoma e uma estratégia: o racismo é um dos mais rentáveis produtos da Rede Globo de Televisão. Acabar com ele seria acabar com uma imensa fatia de mercado.
Na Globo, há “meia dúzia” de atores e de jornalistas negros. São tão poucos que chamam a atenção – e podem ser contados de memória até por quem não assiste o canal: Glória Maria, Abel Neto, Maju, Heraldo Pereira (cuja maquiagem e iluminação o fazem parecer um escandinavo), Tais Araújo e Lázaro Ramos. Claro que tem mais, mas com que destaque?
Pergunte-se se há algum diretor negro na Globo? Algum editor negro? Algum chefe de departamento negro? Algum CEO? Algum integrante do conselho? Algum acionista?
Na Globo, negros – com todo o imenso respeito por todas as profissões mas com a compreensão de que altos cargos de decisão e poder são altos cargos de decisão e poder – são câmeras, cabos-man, iluminadores, claques, sonoplastas, porteiros, motoristas.
Fora o pessoal terceirizado da limpeza e do cafezinho. É a massa de trabalho braçal de que fala Jesse Sousa, aqueles que morrem antes por condições físicas precárias.
É a mesma realidade retratada nas novelas, com as desculpas de praxe do século 21 (um ou outro negro com um papel de destaque – e só).
William Waack apenas materializou o espírito fundador de seu empregador, o espírito que define a sociedade brasileira e que, por isso, torna tão agônica a decomposição fatal de uma emissora de televisão que tomou gosto pela precarização generalizada do Brasil (e sempre zelou por isso).
José Mayer e William Waack são a expressão máxima da Globo: misoginia e racismo. Vai ser edificante ver o clipe especial de natal deste ano da Globo com aquela musiquinha redentora. “Hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”.
O verso-frase repetido à exaustão significa que hoje é o mesmo dia de ontem e que vai continuar assim, é uma ordem!
Mas não nos façamos de rogados: vamos assistir a essa grande e última telenovela que é a decomposição de um monstro. Ele caiu de joelhos, falta o resto. A degradação simbólica sempre precede a falência.
Fraude por fraude, a Globo ainda vai praticar sua “engenharia financeira” para se safar da receita federal e da montanha de direitos trabalhistas que aponta no horizonte (a Carolina Ferraz é uma que entrou com ação contra a Globo depois de 20 anos de “casa”). A série é longa, mas vale a pena. Em dois ou três anos, ela acaba.