Brasil

Yanomamis são explorados na extração da piaçaba em troca de diesel e farinha no AM

Yanomami observa toros de piaçaba extraídos próximo ao igarapé Tabaco, no Amazonas. Foto: Lalo de Almeida

A extração da piaçaba, fibra de uma palmeira ainda usada na fabricação de vassouras, na região do médio Rio Negro, inclui a exploração de yanomamis que vivem em aldeias da terra indígena situadas no lado do Amazonas.

A Terra Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil. O território tem 9,6 milhões de hectares, o equivalente a 16 áreas do tamanho de Brasília, e se estende por Roraima e Amazonas.

O apagão da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) nos últimos anos na região resultou em um avanço da presença de indígenas na extração da piaçaba.

A reportagem da Folha de S.Paulo, que esteve na região de Barcelos (AM) por quatro dias, constatou a exploração de yanomamis exercendo a atividade. Há indícios de que parte da piaçaba extraída é proveniente da Terra Yanomami.

Os indígenas percorrem longas jornadas até comunidades ao longo do Rio Padauiri, fora da área demarcada, em viagens que duram três dias em embarcações com motores de baixa potência, conhecidas como “rabetinhas”. O destino mais frequente é a comunidade Nova Jerusalém, que surgiu há 25 anos, em torno de um entreposto da piaçaba.

Os yanomamis viajam atrás de mantimentos básicos, como farinha e biscoito, e combustível, necessários para o trabalho na extração de piaçaba ao longo de semanas. Esses mantimentos são comercializados pelos chamados patrões — pessoas consolidadas há décadas nesse negócio, que lucram com o aviamento e com a venda da piaçaba— e patrõezinhos —moradores pobres das comunidades—, instalados ao longo dos afluentes do rio Negro.

O pagamento pelos produtos é feito em rolos de piaçaba, e dívidas são geradas com os patrões. Segundo a reportagem, é um modelo fixo, aplicado a qualquer um que vive de extrair a fibra amazônica.

Além das longas jornadas, do aviamento (o nome dado a esse modelo de exploração econômica) e do endividamento, os yanomamis criam uma relação de dependência com as comunidades, inclusive com atuação conjunta com indígenas de outras etnias –especialmente os barés– e com não indígenas em piaçabais.

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Caroline Saiter

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