Zeca Pagodinho, o herói improvável

Atualizado em 4 de janeiro de 2013 às 18:36

O sambista que ajudou no braço os desabrigados de mais um tragédia causada pela chuva

 

Pagodinho em Xerém: ele fez o que tinha de fazer

 

Zeca Pagodinho é o herói improvável. Retrato acabado do sambista de morro carioca, barriga de cerveja e eternamente de Havaianas, ele deu uma lição do que é ser homem em Xerém, bairro pobre no município de Duque de Caxias, no estado do Rio. Popular na região, onde tem um sítio que frequenta há muito tempo, Zeca percorreu as ruas alagadas ajudando as vítimas do temporal que, mais uma vez – até quando? – causou uma tragédia.

Numa entrevista para a televisão, apareceu em seu quadriciclo, com uma capa de chuva, completamente molhado, falando sobre o que estava fazendo com naturalidade, tranquilo e impassível como Bruce Lee. “Estou aqui há quase 20 anos. Adoro isso aqui, meus filhos foram criados aqui. Nunca vi algo parecido. Está triste. Lá em cima a situação está muito ruim. Tem criança desaparecida, tem família soterrada”, disse. Nesse momento, e só nesse momento, sua voz ficou embargada. “Tem casa que desceu rio abaixo. A gente está aí, desde as 6h da manhã, ajudando, mas está triste”.

Zeca distribuiu comida e agasalhos. Abrigou um casal de vizinhos e os dois filhos, uma menina de 1 anos e 2 meses e um menino de 5. Havia outras crianças na casa de Zeca. Ele perdeu alguns animais, que morreram afogados. De acordo com a Defesa Civil, pelo menos 200 pessoas estavam desalojadas. Um homem morreu. Oito estão desaparecidos.

Zeca Pagodinho podia ter ido para o Rio cuidar da vida. Não necessariamente para se esconder. Poderia compor uma canção de protesto daqui a uma semana. Telefonar para o governador. Fazer um pronunciamento. Dar lição. Falar, falar, falar. Mas preferiu agir.

Não é um artista político – aliás, muito pelo contrário. Deu seu recado: “Dá nojo de político. Dá nojo dessa gente”. Mas você não estaria totalmente errado se o chamasse de — me perdoe o maldito clichê — alienado. Agora, você não imaginaria Chico Buarque descendo as ruas enlameadas do Leblon para salvar desabrigados.

“Um herói não é mais corajoso que um homem comum”, disse o ensaísta e poeta americano Ralph Waldo Emerson. “Ele é apenas corajoso por cinco minutos a mais”. Cada minuto do sambista Zeca na chuva lavou a alma de muitos que precisavam.

A façanha de ZP acabou virando meme (alguns deles, impagáveis).