Zona de guerra: Trump envia 300 soldados da Guarda Nacional a Chicago

Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 16:50
Agentes federais tentam conter manifestantes em frente a uma unidade do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA (ICE), no centro de Portland, Oregon

O presidente dos EUA, Donald Trump, autorizou o envio de 300 soldados da Guarda Nacional para a cidade de Chicago, justificando a decisão pela necessidade de conter o que chamou de “criminalidade fora de controle”. A medida, no entanto, provocou forte reação de líderes estaduais e municipais, que classificaram a ação como um ataque à autonomia local e um “abuso de poder presidencial”.

A autorização ocorre poucas horas após o Departamento de Segurança Interna (DHS) relatar um confronto entre agentes de imigração e manifestantes na cidade, durante o qual uma mulher armada foi baleada. Segundo o DHS, ela e outros ativistas teriam colidido de propósito seus carros contra veículos das autoridades.

“Agentes foram forçados a reagir e dispararam tiros de defesa contra uma cidadã armada”, afirmou a subsecretária assistente do DHS, Tricia McLaughlin.

Reações e disputa judicial

O governador de Illinois, J.B. Pritzker, criticou duramente a medida e acusou Trump de “fabricar uma crise”. Ele afirmou à CNN que o envio de tropas federais “vai incitar ainda mais protestos e transformar a cidade em uma zona de guerra”.

“Eles querem o caos nas ruas para justificar a presença militar. Estão usando todos os instrumentos do Estado para minar a autoridade local”, disse Pritzker.

A decisão de Trump foi anunciada logo após uma juíza federal em Portland, Oregon, Karin Immergut, suspender temporariamente o envio de 200 soldados federais àquela cidade. Em sua decisão, a magistrada afirmou que o presidente “violou a Constituição” e “colocou em risco a soberania dos estados”.

“Não há insurreição em Portland, nem ameaça à segurança nacional. A única ameaça é à democracia — e essa ameaça vem do próprio presidente Trump”, declarou a governadora Tina Kotek em apoio à decisão judicial.

O governo já sinalizou que irá recorrer da decisão da juíza.

Chicago se torna novo alvo

Chicago é a mais recente cidade governada por democratas a ser alvo da política de “lei e ordem” de Trump, que já enviou tropas para Washington, Los Angeles, Memphis e Portland.

A Casa Branca justificou a nova operação afirmando que o presidente “não fechará os olhos à anarquia que tomou conta das cidades americanas”.

“Em meio a tumultos violentos e desordem, o presidente Trump autorizou o envio de 300 soldados da Guarda Nacional para proteger agentes federais e instalações públicas”, afirmou a porta-voz Abigail Jackson.

O envio ainda não foi confirmado pelas autoridades locais, mas analistas afirmam que qualquer tentativa de mobilização poderá gerar novas ações judiciais.

Dados contradizem discurso

Embora Trump cite a “violência crescente” em Chicago, dados recentes do Council on Criminal Justice indicam que os homicídios na cidade caíram cerca de 33% entre janeiro e junho de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mesmo assim, a cidade continua entre as mais violentas dos Estados Unidos — 58 pessoas foram baleadas, oito delas fatalmente, durante o feriado do Dia do Trabalho no início de setembro.

Em uma reunião recente com oficiais de alta patente, Trump sugeriu que o envio das tropas a cidades americanas serviria como “campo de treinamento para combater o inimigo interno”.

“As cidades democratas são lugares inseguros. Vamos resolvê-las uma a uma”, afirmou.

A fala reforça as críticas de governadores e juristas que veem na política de Trump uma militarização da segurança pública e uma tentativa de intimidação política em ano eleitoral.