Com parcialidade vista do espaço, por que Moro ainda se põe como único juiz capaz de julgar Lula? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 4 de novembro de 2016 às 18:46
Sérgio Moro
Sérgio Moro

 

O artigo com o professor de Harvard John Comaroff na Folha levanta algumas excelentes questões sobre a Lava Jato, Sergio Moro e Lula.

Destaco algumas declarações:

. “Ao vazar conversas privadas, mesmo que envolvam 20 pessoas, se Lula está entre elas, você sabe que é dele que a mídia falará. Isso é ‘lawfare’. Você manipula a lei e cria uma presunção de culpa”.

. “Não se pode fingir que não se esperava que essas medidas contra Lula não teriam impacto. Isso demonstra uma ânsia em acusá-lo”.

. “Parece que Lula tem recebido um tratamento diferente nos aspectos legais na operação”.

. “Eu estou tentando entender o caso. Meus colegas aqui em Harvard não conseguem compreender. Há fatos que perturbam a audiência internacional”.

. “O país possui um sistema legal robusto. Não há necessidade de se violar a lei.”

 

Mas o principal ponto é o seguinte: “Certamente há muitos outros juízes capazes no Brasil. Em princípio, se você quer manter o sistema judicial o mais limpo possível, você não perde a oportunidade de evitar conflito de interesse ou atitudes impróprias”.

Certamente que há. Ou não?

Diante da parcialidade evidente de Moro, vista hoje do espaço, explicitada em sua militância (inclusive com fan page no Facebook mantida pela mulher) — que sentido faz ele continuar no caso?

Virou um embaraço para a justiça brasileira. Passou do ponto da razoabilidade para o faroeste.

Só Moro é capaz de julgar Lula? Tem que ser ele, obrigatoriamente? Foi o destino? Deus?

Trata-se do único magistrado honesto e competente do Brasil? Como ele, não há mais ninguém?

Há semanas, o próprio Moro escreveu um despacho de 11 páginas destacando sua vocação sagrada para o caso. Numa atitude desprendida e de fé nas instituições, qual seria o problema de Moro abrir mão? Ou Lula é dele e ninguém tasca?

O problema não é dar poderes demais aos savonarolas, mas contê-los depois.