Como educar os filhos na era da internet

Atualizado em 7 de julho de 2011 às 9:31
Camila, o laptop e a educação

Como educar os filhos na era da internet?

Vejo Camila no laptop e penso nisso.

Bom, um bom passo é olhar para sábios que se detiveram nessa questão. Os fundamentos não mudam tanto assim.

É um tema que ocupou os filósofos desde sempre.

Alguns povos antigos bem-sucedidos na educação das crianças foram objeto de admiração dos pensadores. Xenofonte, discípulo de Sócrates, fala dos persas. Eles se preocupavam mais em ensinar as virtudes às crianças do que as letras e as ciências. Platão, outro pupilo de Sócrates, aliás o maior deles, também fala dos persas. Os garotos persas aprendiam a ser sinceros, justos, valentes, antes de mergulhar na trigonometria ou na gramática. Ou, se pensarmos em nossos dias, nos computadores.

Também a mocidade de Esparta recebia esse tipo de instrução. Os jovens eram preparados para a vida. Exemplos do que lhes era ministrado: como suportar as adversidades ou como controlar os desejos. Perguntaram a um pensador grego o que as crianças deveriam aprender. Respondeu ele: “O que terão de fazer quando crescerem”. As lições gregas de como criar a juventude encantaram e comoveram, tempos depois, Montaigne. Na sua obra magna, Os Ensaios, Montaigne lembra, com admiração reverente, que os gregos ensinavam suas crianças a “defender-se contra as tentações da volúpia e encarar com coragem os revezes da sorte ou a morte que nos ameaça”.

A pedido de uma amiga grávida, Condessa de Gurson, Montaigne escreveu nos Ensaios um capítulo sobre a educação. “A criança não deve ser educada junto aos pais. A sua afeição natural relaxa-a demasiadamente. O resultado é que a criança não fica pronta para a aventura da vida”. Montaigne referia-se a uma praga que, nos dia de hoje, é conhecida como superproteção. Queremos poupar os filhos dos dissabores da vida, mas o resultado é que nós os prejudicamos: a superproteção os torna inseguros, medrosos e sem confiança.

Algumas palavras de Montaigne à Condessa interessada em como criar o filho que chegava:

# O silêncio e a modéstia são muito apreciáveis na conversação.

# Deve-se ensinar o menino a mostrar-se parcimonioso em seu saber, quando o tiver adquirido; a não se irritar com mentiras ou tolices ditas em sua presença. Que se contente em corrigir a si próprio, e não aos outros. Que evite as atitudes indelicadas de dono do mundo. Que o ensinem sobretudo a ceder numa discussão ante a verdade, logo que a enxergue, surja ela dos argumentos do adversário ou de sua própria reflexão. Teimar e contestar obstinadamente são defeitos peculares às almas vulgares, ao passo que voltar atrás, corrigir-se, abandonar sua opinião errada no ardor da discussão, são qualidades raras, das almas fortes e dos espíritos filosóficos.

# Convém ensinar a criança a prestar atenção a todas as pessoas que a cercam. As próprias tolices ou fraquezas dos outros nos instruem. Observando as maneiras de todos, o jovem será levado a imitar as boas e desprezar as más.

# Habitue a criança ao suor e ao frio, ao vento, ao sol. Tire-lhe a moleza o requinte no vestir, no dormir, no comer e no beber.

Montaigne pregava, enfim, inspirado nos exemplos que a história lhe oferecia, uma educação cuja validade é eterna, com internet ou sem — tamanha a sabedoria alojada dentro dela.