Do Santo Daime à Fátima Bernardes: o que levou o ‘Sri Prem Baba’ a virar guru de Doria, Aécio e coxas vários. Por Bruno Verson

Atualizado em 6 de janeiro de 2018 às 10:52
Prem Baba e Doria

 

POR BRUNO VERSON, jornalista com passagens por Estadão, Folha, iG, O Globo e Abril

Quando entrei pela primeira vez naquele conjugado apertado, onde coisas de cozinha dividiam o mesmo espaço com roupas secando num varal improvisado e um sofá torto, uma pequena ilha de organização no caos me chamou a atenção.

Era a foto de um sujeito simpático, de longas barbas brancas, em um pequeno altar. Havia alguma deidade numa pequena estátua de metal, algo queimado e algumas frutas secas.

“Conheço esse cara. É o guru do Aécio, mas por que um altar para ele? E, espantoso, ele é maior que Ganesha”, pensei comigo, sem coragem de questionar a moradora do lugar.

Até esse dia, o guru do Aécio era apenas isso: um líder religioso apresentado durante uma campanha eleitoral no Brasil. Em 2010, Serra colou nos evangélicos, depois nos monarquistas da TFP. Marina pertence à Assembleia de Deus.

Virar fiel fervoroso em uma eleição é algo tão comum no Brasil quanto beijar criança e comer o pastel de bacalhau do Mercado Municipal em São Paulo.

O que me chamou atenção é como Prem Baba, esse é o nome do sujeito de barba branca, virou, do dia para noite, uma divindade que mereça um altar na casa de uma pessoa. Seja ela quem for.

Dia após dia, Prem Baba ampliava seu espaço na mídia e nas redes sociais. Apareceu ao lado de quase todo o Moro Bloco (globais que “apoiam” a Lava Jato e berram contra a corrupção no país); deu um rega-bofe em seu aniversário de 52 anos que mais parecia um lançamento de coleção da finada Daslu; posou com Doria, Marconi Perillo; apareceu na Fátima Bernardes, deu entrevista para o Programa do Bial e revistas resolveram contar quem é o paulistano que virou líder espiritual e humanitário.

Não está claro o que significa esse título que o próprio Prem Baba definiu para si. Talvez a vontade de ser líder espiritual de toda a humanidade. Coisa que gente como Buda, Cristo e Maomé não conseguiram ainda.

Baba é unanimidade no Moro Bloco e entre alguns políticos por representar uma parcela “diferenciada” e cheirosa da população. Ele vende “espiritualidade” sob medida para bacanas. 

A enorme rejeição de Malafaia e o desastre que foi a união Serra – TFP em 2010 criaram um vácuo de liderança religiosa na política, especialmente no estrato de maior renda e escolaridade dos grandes centros urbanos.

O guru antes do guru

O hinduísmo começou cerca de 2 mil anos antes de Cristo na Índia. Apesar de estarem unidos pelos Vedas, livros sagrados do hinduísmo, e por uma trindade de deuses em comum – Brahma, Krishna e Shiva -, há uma variação espectral que o subdivide  em linhagens, credos, seitas, cujas origens se perdem na história.

Mestres são portadores e transmissores de uma tradição e escolhem seus discípulos mais aptos a seguir em seu crescimento e fortalecimento.

De linhagem Sachcha, Baba utiliza o título de Sri mesmo antes da morte de seu guru Sri Sachcha Baba Maharajji.

Já em 2007, utilizou o título que lhe garante devoção. Maharajji morreu em 2011, sem nunca dizer explicitamente que Baba iria tomar seu lugar. A confusão só aumentou quando entrou em cena ShantiMayi, outra discípula de Maharajji, com os mesmos direitos de ser líder da linhagem Sachcha. Curioso é que um não existe para o outro.

A morte de um guru sempre gera alguma disputa. Seguidores tentam se apossar fama de uma linhagem de sucesso para impulsionar egos e “carreiras”.

É assim no Vaticano e na igreja pentecostal da esquina. Outra questão ainda nebulosa são os caminhos trilhados por Baba antes de se tornar (ou apossar, não se sabe ao certo) de uma linhagem do hinduísmo.

Entre o encontro com Maharajji e sua morte em 2011, Baba era líder de um ritual que utilizava Santo Daime em uma igreja em Nazaré Paulista. Drogas alucinógenas são vistas no hinduísmo como uma maneira barata de resolver os próprios problemas.

É por utilizar o título de Sri mesmo ante da morte de seu mestre, por fazer rituais com uso de alucinógenos e por ser rico que Prem Baba recebe nota 1/5 no gururating.org, site que se dedica a resenhar a vida e obra de gurus da atualidade.

Prem Baba (ou Janderson) é demasiadamente humano para ser cultuado.