O ELOGIO DA SOLIDÃO

Atualizado em 20 de julho de 2013 às 8:35

Você está só? Pense duas vezes antes de se entristecer.

 

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O homem sábio basta a si mesmo, escreveu o filósofo grego Aristóteles. É um pensamento ao qual constantemente se agarram diversas escolas filosóficas ocidentais.

A solidão é um caminho para a sabedoria.

E no entanto vivemos num mundo em que a introspeção parece uma praga da qual todos fugimos.

A solidão como que embaraça e envergonha. Tente se lembrar de uma campanha publicitária baseada em alguém só. Ou de um filme americano em que o personagem na solidão não seja um atormentado.

As tradições orientais, do taoísmo ao hinduísmo, também sublinham a solidão como uma etapa indispensável para o autoconhecimento.

Na China e no Japão antigos, os homens poderosos se recolhiam à solidão monástica no final da vida em  busca da elevação espiritual.

Cícero resumiu isso assim: “Quem depende apenas de si mesmo e em si mesmo coloca tudo tem todas as condições de ser feliz”.

Arthur Schopenhauer, o grande pensador alemão do século 19, se deteve longamente neste tema, o da solidão.

No final de sua vida, morava em Frankfurt na companhia de Atma, seu cão poodle. Tinha poucos amigos e jamais se casou. Mais que pregar a reclusão, ele a praticou.

Os ecos de sua voz se ouvem em múltiplos lugares. Movimentos como o existencialismo e artistas como Tolstói, Proust e Wagner sofreram intensa influência da voz pessimista, ou simplesmente realista, de Schopenhauer. Todo homem digno, segundo ele, é retraído. “O que faz dos homens seres sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nesta, a si mesmos.”

As pessoas retraídas, numa cultura que supervaloriza a tagarelice vazia e a “desenvoltura” social, podem sentir-se diferentes das outras, e para pior.

Se lerem Schopenhauer, terão uma outra visão de si próprios, francamente mais positiva.

Numa obra já da maturidade, Aforismos para a Sabedoria de Vida (Martins Fontes), ele produziu reflexões memoráveis sobre a convivência entre as pessoas.

Não há doçura nessas reflexões, não há indulgência e nem modos polidos, mas uma agudeza mordaz que ao mesmo tempo incomoda e encanta.

“A chamada boa sociedade nos obriga a demonstrar uma paciência sem limites com qualquer insensatez, loucura, absurdo. Os méritos pessoais devem mendigar perdão ou se ocultar, pois a superioridade intelectual fere por sua mera existência. Eis por que a sociedade, chamada de boa, tem não só a desvantagem de pôr-nos em  contato com homens que não podemos amar nem louvar, mas também a de não  permitir que sejamos nós mesmos, de acordo com a nossa natureza. Antes, nos obriga a nos encolhermos ou a nos desfigurarmos. Discursos ou idéias espirituosas, na sociedade ordinária, são francamente odiados.”

Schopenhauer exagera? É possível. Ele tinha um estilo veemente de expor suas idéias.

Mas reflita com calma sobre a passagem acima. Tire o que possa parecer exagerado. Faz sentido ou não?

Você pode concordar com Schopenhauer ou discordar. Amá-lo ou odiá-lo. O que não dá é para não reconhecer a força colossal duradoura de seus pensamentos.