O nível dos comentários dos leitores do G1 sobre a saúde de Lula. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 23 de janeiro de 2016 às 19:38

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Noutro dia, num desses laboratórios involuntários que os detalhes cotidianos nos permitem, ouvi, sem querer, alguém dizer:

“Petistazinho nojento. Governista de merda. Tomara que morra na fila do SUS.”

Hoje, numa matéria do G1 que anunciava exames médicos do ex-presidente Lula, gente da mesma estirpe comentava:

“Se eu fosse o médico que o atendeu teria injetado um contraste para matar essa praga.”

ou

“Este não pode morrer agora, tem que sofrer muito.”

Comentários como estes – ou como os que fizeram, recentemente, acerca do nascimento do neto de Dilma Roussef – nos dão uma só triste certeza: o ódio do fascista brasileiro não é político – é apenas ódio, pura e simplesmente.

Não há uma discussão genuinamente política, não há sequer um discurso minimamente coerente, porque o interesse não é construir ou desconstruir nada: é obter uma espécie de licença irracional para o ódio.

Como foi nas manifestações pró-impeatchment, em que os “defensores do Brasil” exibiam placas de “Dilma, que pena que não te enforcaram”.

Os fascistas não se manifestam por um “novo Brasil” ou por uma “nova política”, porque isso não lhes interessa. Ninguém pode se interessar pelo que não conhece – tanto não conhecem que pedem intervenção militar – a grande cereja do bolo é, na verdade, a oportunidade de manifestar um ódio visceral e assustador, teoricamente justificado pela palavra mágica que dá margem à vazão de um temperamento sórdido: corrupção.

Em nome do que eles chamam de “luta contra a corrupção” – peça que um fascista discorra sobre isso por cinco minutos e espere para rir – pode-se xingar uma mulher de velha gorda e sapa, pode-se desejar a morte do outro, pode-se hostilizar uma criança que acabou de vir ao mundo – o ódio está em alta, e é isto que, de fato, os seduz.

A mídia é a grande máquina propagadora deste ódio, é evidente, mas receio que ele já estivesse lá, dentro de cada fascista, esperando por um estímulo qualquer. A inclusão social associada ao goverto petista despertou o monstro fascista, e ele está pronto para atacar – agora, com palavras odiosas; amanhã, é impossível saber.

Essa é uma realidade assustadora: todo esse ódio nos mostra que a barbárie só espera uma oportunidade.

A cada vez que um fascista deseja publicamente a morte de outrem – sem nenhuma vergonha ou constrangimento, já que, para eles, o ódio deixa de ser condenável se for dirigido a um petista – nós compreendemos, talvez mais do que gostaríamos, que a linha entre o desejo e a ação é tênue demais para que possamos ignorá-la.

E os comentarista do G1 são prova disso.