17 mortes e 736 acidentes: o fracasso retumbante do carro autônomo de Elon Musk

Atualizado em 14 de junho de 2023 às 17:08
Carro autônomo da Tesla bate em viatura de bombeiros nos EUA

No Washington Post, o flop do carro autônomo do bilionário de extrema-direita Elon Musk.

Alguns trechos:

O ônibus escolar mostrava luzes de advertência de parada quando Tillman Mitchell, 17 anos, desceu em uma tarde de março de 2023. Em seguida, um Tesla Model Y se aproximou na North Carolina Highway 561, uma estrada do estado da Carolina do Norte. O carro – supostamente no modo piloto automático – nunca diminuiu a velocidade.

Atingido a 75 km/h, Mitchell foi arremessado contra o pára-brisa, voou pelos ares e caiu de cara na estrada, segundo sua tia-avó, Dorothy Lynch. O pai de Mitchell ouviu o acidente e saiu correndo de sua varanda para encontrar seu filho caído no meio da avenida. “Se fosse uma criança menor”, disse Lynch, “estaria morta”.

Esse acidente no condado de Halifax foi um dos 736 acidentes nos EUA desde 2019 com Teslas no modo piloto automático – muito mais do que relatado anteriormente, de acordo com uma análise da Secretaria de Tráfego Rodoviário dos EUA. O número aumentou nos últimos quatro anos, mostram os dados, refletindo os perigos associados ao uso crescente da tecnologia de carros autônomos da Tesla, montadora do bilionário Elon Musk.

Quando as autoridades divulgaram pela primeira vez um relato parcial de acidentes envolvendo o piloto automático em junho de 2022, contaram apenas três mortes ligadas à tecnologia. Os dados mais recentes incluem pelo menos 17 incidentes fatais, 11 deles desde maio de 2022, e cinco feridos graves. (…)

A família de Mitchell considera o acidente um erro motivado pela confiança excessiva na tecnologia, o que os especialistas chamam de “complacência de automação”. Mas quando perguntados sobre Musk, os parentes do jovem foram mais duros: “Acho que eles precisam proibir a direção autônoma, deveria ser banida”.

Segundo Musk, os carros autônomos da Tesla são mais seguros do que os pilotados por humanos. Ele pressionou a montadora a desenvolver recursos para manobrar nas ruas e lidar com ônibus escolares parados, carros de bombeiros, semáforos e faixas de pedestres – argumentando que a tecnologia dará início a um futuro sem acidentes. Embora seja impossível dizer quantos acidentes foram evitados pela automação, os dados mostram falhas claras na tecnologia. 

Os 17 acidentes fatais com Teslas revelam padrões distintos, descobriu o jornal Washington Post: quatro envolveram uma motocicleta. Outro envolveu um veículo de emergência. Enquanto isso, algumas das decisões de Musk – como expandir a disponibilidade dos recursos e remover os sensores de radar dos veículos – parecem ter contribuído para o aumento relatado de incidentes, de acordo com especialistas que conversaram com o Post. A Tesla e Elon Musk não falaram com o jornal.

A Agência de Estradas dos EUA (NHTSA, na sigla em inglês) não comenta investigações em curso. “A NHTSA lembra ao público que todos os sistemas avançados de assistência ao motorista exigem que o motorista humano esteja no controle e totalmente envolvido na tarefa de dirigir o tempo todo. Consequentemente, todas as leis estaduais responsabilizam o motorista humano pela operação de seus veículos”. (…)

A ex-conselheira sênior de segurança da NHTSA, Missy Cummings, professora da Faculdade de Engenharia da Universidade George Mason, diz que o aumento de acidentes com Teslas é alarmante. “A Tesla está tendo mais acidentes graves – e fatais – acima da média”, disse ela em sobre o levantamento feito pelo Post. Uma causa provável, ela disse, é o lançamento do Full Self-Driving, que traz assistência ao motorista para ruas urbanas . “É razoável esperar que isso esteja aumentando os acidentes? Claro, com certeza”.

Elon Musk em evento da Tesla em Xangai em janeiro de 2020

Não está claro se os dados captaram todos os acidentes envolvendo os sistemas de assistência ao motorista da Tesla. Os dados da NHTSA incluem alguns incidentes nos quais é “desconhecido” se o piloto automático ou a direção totalmente autônoma estava em uso. Isso inclui três mortes, incluindo uma em 2022.

Os dados foram coletados após o governo federal exigir das montadoras a divulgação dos acidentes com carros autônomos. O número de acidentes envolvendo a tecnologia é baixo em comparação com todos os incidentes rodoviários; A NHTSA estima que mais de 40.000 pessoas morreram em acidentes de carro nos EUA em 2022. Desde o início dessa apuração, a grande maioria das falhas relacionadas à automação envolveu Teslas.

Introduzido em 2014, o piloto automático da Tesla é um conjunto de recursos que permite ao carro manobrar da rampa de entrada para a rampa de saída da rodovia, mantendo a velocidade e a distância atrás de outros veículos, seguindo as linhas da pista. A Tesla o oferece como um recurso padrão em seus veículos, dos quais mais de 800.000 estão equipados com piloto automático. 

Já o Full Self-Driving é um recurso experimental que os clientes devem adquirir, permitindo que os Teslas manobrem do ponto A ao ponto B seguindo as instruções passo a passo numa rota, parando nos semáforos, fazendo curvas, mudando de faixa e respondendo aos perigos ao longo do caminho. Com qualquer um dos sistemas, a Tesla diz que os motoristas devem monitorar a estrada e intervir quando necessário.

O aumento nas colisões coincide com o lançamento do Full Self-Driving da Tesla, que se expandiu de cerca de 12.000 usuários para quase 400.000 em pouco mais de um ano. Quase dois terços de todas as falhas de assistência ao motorista que a Tesla relatou à NHTSA ocorreram em 2022. Em fevereiro de 2023, a Tesla fez recall de mais de 360.000 veículos com Full Self-Driving – devido a preocupações de que o software levasse seus veículos a desobedecer semáforos, sinais de parada e limites de velocidade. (…)

A NHTSA abriu várias investigações sobre as falhas da Tesla e outros problemas com seu software de assistência ao motorista. Um deles se concentrou na “frenagem fantasma”, um fenômeno no qual os veículos desaceleram abruptamente devido a perigos imaginários. Em 2022, um Tesla Model S freou repentinamente na San Francisco Bay Bridge, resultando em um engavetamento de oito veículos que deixou nove pessoas feridas. 

Também no ano passado, a NHTSA abriu duas investigações sobre acidentes fatais envolvendo Teslas e motociclistas. Um deles ocorreu em Utah, quando um motociclista em uma Harley-Davidson viajava em uma pista nos arredores de Salt Lake City pouco depois da 1h, segundo as autoridades. Um Tesla atingiu a moto por trás, matando o motoqueiro.