46% das discussões de internet têm violência contra mulheres, diz estudo

Atualizado em 23 de setembro de 2023 às 20:56
Ilustração: Violência contra mulheres. Foto: Reprodução

Uma pesquisa recente realizada pela consultoria de dados digitais Timelens, encomendada pelo Instituto Avon, revelou números alarmantes de violência e misoginia em fóruns anônimos de internet. Os dados indicam que em quase metade (46%) das discussões sobre mulheres nesses fóruns, os participantes utilizam termos violentos para se referir a elas. Quando as discussões envolvem pornografia, esse índice sobe para chocantes 69%.

A pesquisa analisou 9,5 milhões de posts em 10 chans (fóruns anônimos) e 47 aplicativos de mensagens. Notavelmente, a maioria dos chans não permite a participação de mulheres, com apenas 0,3% dos posts examinados originados em chans que permitem a presença de mulheres.

Um dos aspectos preocupantes identificados pela pesquisa é o aumento exponencial no volume de mensagens em fóruns anônimos. Entre 2021 e 2023, o número de mensagens passou de 19 por semana para impressionantes 228 por hora, totalizando 38,3 mil posts por semana. Esse crescimento rápido está gerando alarme, pois esses fóruns têm regras que proíbem a participação de mulheres.

Os chans, abreviação de “channels” (canais), são espaços anônimos de comunicação disponíveis em páginas da internet que os mecanismos de pesquisa convencionais não conseguem identificar. Esses espaços estão ganhando popularidade no Brasil e têm como alvo influenciadoras, celebridades e pessoas com maior visibilidade online. Além disso, algumas vítimas desses ataques chegam a receber ameaças de morte.

A diretora-executiva do Instituto Avon, Daniela Grelin, destacou, em entrevista à Agência Brasil, a importância de investigações científicas para compreender o funcionamento desses fóruns anônimos. Esses espaços têm o potencial de levar a violência virtual para o mundo real, como visto em casos recentes de ataques a escolas. A transformação cultural precede o ato violento e inclui a desumanização da mulher.

Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon. Foto: Roberto Setton/Divulgação

“A gente vê em casos recentes no Brasil, em alguns ataques em escolas, como a de Suzano (em São Paulo), que esses jovens eram frequentadores de chans, que acabam por se tornar verdadeiras oficinas de radicalização e que começam a banalizar a violência e desumanizar as mulheres”, afirmou. Para a diretora do Instituto, não é apenas coincidência que muitos desses atiradores tenham tido como alvo meninas, “que eles consideravam que não eram virgens, por exemplo”.

Grelin sugere que o Brasil olhe para medidas adotadas em outros países, como a França, que implementou leis e regulamentos para coibir essa dinâmica. Além disso, as plataformas que hospedam esses fóruns também devem ser responsabilizadas por reduzir o conteúdo misógino que banaliza as mulheres.

Embora os usuários sejam anônimos, os pesquisadores conseguiram identificar algumas características dos frequentadores dos chans. Em sua maioria, são homens heterossexuais, na faixa etária de 14 a 40 anos, com maior incidência de jovens com idade entre 20 e 24 anos.

Os frequentadores se identificam como conservadores politicamente, além de manifestarem grandes dificuldades socioafetivas, sentimentos de fracasso e rejeição, em especial em relação às mulheres, e fazem uso de expressões racistas e machistas. Em seu vocabulário, evidenciam posicionamentos misóginos e de incitação à violência. Termos como churrascar, que significa morrer, e raid, que significa expor intimidades, são usados com frequência.

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