Publicado originalmente no AzMinas
Por Luísa Toller
Pequenas atitudes no dia a dia da educação podem ajudar a formar pessoas com muito mais respeito à diversidade.
No início de janeiro, a campanha da revista AzMina para o dia das mães de 2020 virou base para uma questão da prova do vestibular da Unicamp. E inspirada pela menção, peço licença ao espaço artístico da coluna para trazer minha versão educadora. Afinal, começo de ano geralmente traz os ventos de planejamento e renovação. Venho, então, oferecer a professores e professoras algumas dicas que os ajudem a elaborar um conteúdo educativo feminista, antirracista e respeitoso à diversidade. E não estou falando sobre dar aulas sobre feminismo e racismo, não. Mas sim como isso pode estar presente no dia a dia da educação, trazendo para os alunos uma visão de mundo mais inclusiva.
Certifique-se de que sua lista de fontes (sejam elas livros, filmes, músicas ou outros tipos de obras) contenha autores e autoras com o máximo de diversidade possível. Ainda executamos bastante os cânones do homem branco hétero como única via de consulta para o aprendizado. Para mudar isso é necessário que nós educadores saiamos de nossa zona de conforto e busquemos outros pontos de vista para o que já ensinamos há anos.
Como as aulas online são realidade de parcela expressiva da população, um dos recursos mais usados tem sido a apresentação de imagens. Caso for usar fotos ou ilustrações de pessoas, cuidado para não cair na armadilha do algoritmo racista e repetir padrões opressores que são considerados erroneamente como senso comum – padrões racistas, heteronormativos, gordofóbicos e capacitistas. Representatividade importa.
Estamos vivendo a era dos cancelamentos e julgamentos na internet, mas isso não deve chegar na sala de aula. Caso queira trazer alguma polêmica para as aulas, procure gerar questionamentos. Em vez de sairmos por aí definindo nossas opiniões, acredito que podemos aproveitar um momento em que as perguntas são mais potentes em desconstruir o sistema do que as respostas.
E viva Paulo Freire! Quanto mais nos aproximarmos da realidade de nossos aprendizes maior a chance de conexão e transformação do conhecimento. Aparelhos eletrônicos, aplicativos e redes sociais nem sempre são adversários da capacidade de concentração. Às vezes podem ser instrumentos para pesquisa e observação.
Por último, justamente o ponto principal: elabore o conteúdo das aulas a partir dessas lentes de olhar múltiplo. A disciplina pode ser matemática, biologia, português, música, educação física, economia, línguas estrangeiras, ou qualquer outra não mencionada (me perdoem por isso), sempre há a possibilidade de criar situações ou escolher textos que retratem a sociedade de forma múltipla, inclusiva e respeitosa.
Natural do Rio de Janeiro, Luisa é musicista, professora e pesquisadora. Formada pela Unicamp, já participou de diversas bandas tocando em Festivais, Viradas Culturais, circuitos e prêmios como ProAC e BNDES. Foi curadora da Caixa Cultural e professora no Ensino à Distância da UFSCAR. Venceu três categorias no 8o Concurso de Marchinhas Nóis Trupica Mais Não Cai com a composição Marcha das Mulheres. Hoje cursa mestrado na USP, tendo participado do 13o. Encontro Mundos de Mulheres, e sua pesquisa (assim como tudo na vida) busca desconstruir padronizações e hierarquias de gênero. Além disso adora cozinhar e descobrir receitas e formas de vida mais orgânicas e menos industriais.
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