Record abre campanha contra Lula com jornalista da ultradireita espanhola especializada em fake news

Atualizado em 10 de outubro de 2021 às 19:23
Cristina Seguí

A Record já pariu a primeira mamadeira de piroca das eleições de 2022.

O principal jornal do bispo Macedo perpetrou uma matéria picareta a partir de uma entrevista “exclusiva” com uma jornalista espanhola chamada Cristina Seguí.

Ela diz que “o narcotráfico patrocinou partidos de esquerdas na Europa e na América Latina”, incluindo o PT. Não apresenta uma mísera prova, mas até aí quem se importa?

Cristina usa a prisão em Madri do general venezuelano Hugo Carvajal, ex-chefe dos serviços de inteligência da Venezuela no governo Chávez, para fazer as acusações. Segundo os EUA, Carvaval fez tráfico de drogas com as Farc.

Dilma e Lula “faturaram com esse dinheiro”, disse ela. No Uol, Maurício Stycer conta que o “Jornal da Record” mentiu ao alegar que não obteve resposta da assessoria de Lula. Uma nota foi emitida e simplesmente ignorada.

Essa fake news já está sendo explorada à farta pelas milícias bolsonaristas nas redes sociais. A Igreja Universal deu o primeiro tiro da campanha suja pró-Bolsonaro.

É tudo coisa do “Foro de São Paulo”.

No site Visão, o colunista Nuno Miguel Ropio contou quem é Cristina Seguí, uma espécie de Ana Paula Henkel de saias:

Antifeminista e anticomunista, amplificadora de teses conspirativas e fake news, a antiga coqueluche do partido espanhol de extrema-direita “Vox”, Cristina Seguí começou agora a atacar também figuras portuguesas.

Paulo Portas, Pedro Filipe Soares, Pacheco Pereira, Ana Gomes, Mariza Matias, Catarina Portas, Francisco Louça, Carmo Afonso. O que têm em comum estas personalidades portuguesas? Foram todas visadas por vários tweets de uma “influenciadora” espanhola, na última quarta-feira, que as correlacionou num espécie de joint-venture ibero-americana que, segundo a autora, terá recebido dinheiro oriundo do negócio de drogas na América Latina, para elogiarem o regime venezuelano de Nicolas Maduro.

A autora de tal investida, seguida por quase 200 mil pessoas no Twitter, chama-se Cristina Seguí – uma antiga hospedeira [comissária] de bordo, que, a reboque de espaço mediático ganho há cerca de oito anos como comentadora de tom populista, foi uma das fundadoras regionais do “Vox”.

Hoje em dia, após sair daquela força política, tornou-se uma espécie de musa da ultradireita espanhola e difusora de teses conspirativas e fake news.

Integra um painel de cronistas, com que formou o grupo “Estado de Alarme” [em espanhol “Estado de Alarma”], que no YouTube analisa quase diariamente notícias, principalmente sobre a Covid-19. A investida em Portugal segue-se a uma entrevista feita pela própria a um cronista português, João Lemos Esteves (ver abaixo), que alimentou tais teorias da espanhola com dados sem qualquer sustentabilidade.

Dirigente fugaz da extrema-direita

Cristina Seguí, que se identifica como escritora e jornalista (ainda que seja essencialmente cronista), foi líder regional daquela força política durante algum tempo, em 2014, até pedir a sua demissão, em rutura com um dirigente da estrutura de Valência, José Luis González Quirós, a quem acusou de corrupção. Mãe solteira – tem um filho -, terminou também pouco tempo depois a relação que mantinha com Javier Ortega Smith, o vice de Santiago Abascal, líder do “Vox”. É casada, desde há um ano, com um agente da polícia de choque espanhola.

Desde há um mês, com a detenção pelas autoridades espanholas, em Madrid, de Hugo Carvajal, conhecido por “El Pollo” [O Frango], o antigo líder dos serviços secretos venezuelanos, Seguí viu ali um filão para a sua cruzada e alargou a argumentação de ligações do sistema político espanhol ao regime de Maduro até Portugal e ao Brasil.

A pedido dos Estados Unidos, “El Pollo” foi detido a 10 de setembro, para ser julgado por Washington num caso de narcotráfico, mas ainda não foi extraditado. Tem sido ouvido pela Justiça espanhola, a quem, para não ser extraditado, vai entregando algumas informações – entre as quais, de que um dos fundadores do partido espanhol de esquerda Podemos, Juan Carlos Monedero, terá recebido 200 mil euros da petrolífera estatal venezuelana (como revelou há quase duas semanas o diário El Mundo).

Qual a tese de Cristina Seguí, que é veiculada em pseudojornais de língua espanhola: Carvajal esteve escondido em Espanha, com a ajuda dos serviços secretos do país vizinho – o Centro Nacional de Inteligência -, que, diz, serem controlados pelo PSOE, do chefe do Governo Pedro Sánchez, e pelo Podemos, “ambos financiados pelo narcotráfico da América Latina”. Porém, assegura que antes de Madrid, “El Pollo”, “passou, desde que desapareceu, quase três anos em Portugal, sob a proteção de políticos e empresários portugueses e espanhóis”.

Um desses políticos será, na tese conspirativa de Seguí, Manuel Dias Loureiro, a quem chamou “um dos homens mais influentes” do PSD, numa entrevista dada, no início desta semana, ao jornal brasileiro “O Dia”, disponível online. Uma das figuras sociais-democratas na mão de Dias Loureiro será José Luís Arnaut, chairman da Ana – Aeroportos. De acordo com a cronista, autora de duas obras [“Manual para se defender de uma feminazi” e “Mafia feminista”], “El Pollo” saiu depois de Portugal, via aeroporto de Tires [Cascais] com a ajuda da Mota-Engil, que lhe pagou um jato em troca dos alegados favores recebidos na Venezuela.

A esta narrativa, sem qualquer base factual nem provas, juntam-se depois cubanos, o Hezbollah (a força paramilitar islâmica extremista que controla territórios do Centro-Norte do Líbano e que se transformou em partido político), brasileiros (PT, Lula da Silva e outros dirigentes da esquerda do outro lado do Atlântico) e mais políticos portugueses – e aí surgem, então os visados pelos tweets da espanhola na última quarta-feira, 6 de outubro. (…)