Se vencer, Milei será tudo o que promete ser? Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de outubro de 2023 às 11:01
Javier Milei, o candidato da extrema direita argentina — Foto: Luis Robayo/AFP
Javier Milei, o candidato da extrema direita argentina. Foto: Luis Robayo/AFP

Pararam de comparar Javier Milei com Bolsonaro, porque as abordagens mais superficiais sobre o extremista argentino já foram desprezadas. Mas falta saber o que ele pode fazer se de fato for eleito em primeiro turno nesse domingo, como se arriscam a prever alguns analistas de pesquisas.

Vai caminhar para o centro, ou vai tentar fidelizar sua base, como Bolsonaro fez no Brasil e exagerou na dose? O fascista (sim, fascista ele é, assim como Bolsonaro) pode contrariar muito do que alardeou como radical e não cometer as loucuras que promete?

Milei anuncia a dolarização da economia, como projeto para mais adiante, mas inadiável. A destruição da estrutura do ensino público. O fechamento ou o enfraquecimento Banco Central. A total abertura da economia. Cortes nos subsídios que seguram os custos das passagens no transporte coletivo. E o fim da participação argentina no Mercosul.

Não há como fazer tudo isso, mesmo que em parcelas e lentamente. Mas qual é o verdadeiro Milei que começará a governar já em dezembro, se for eleito em primeiro ou segundo turno? Para quem ele irá governar?

Milei tem uma base eleitoral jovem (a base de Bolsonaro é de gente com mais de 40 anos). Não tem sustentação religiosa de direita (os evangélicos não têm expressão na Argentina). E Não sustenta sua retórica em questões de costumes (também ao contrário do falso moralismo do discurso bolsonarista).

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o candidato a presidência da Argentina Javier Milei (La Libertad Avanza) são equiparados em vídeo. Foto: Reprodução

O lastro da pregação de Milei é a economia. É sobre combate à inflação e à pobreza que ele fala a essa base de jovens e pobres que antes tinham fortes vínculos com o peronismo.

Os peronistas envelheceram, e os novos jovens migraram para o outro lado. Milei é o cara que, para a população de baixa renda e também para a classe média e os ricos, pode produzir um milagre como o que Carlos Menem produziu ao dolarizar a economia nos 90.

Na Argentina hoje, vale mais do que nunca a frase batida de que o que prevalece sempre é a economia, estúpido.

Os argentinos querem milagres para uma inflação de mais de 100% e só enxergam Milei como possível milagroso. Sergio Massa, o candidato do peronismo, e Patricia Bullrich, já abandonada pelo macrismo, tentarão contê-lo para que não vença no primeiro turno.

Milei pode ser mais um fenômeno de massa de direita com conexão com os jovens da chamada geração Z a ser eleito na América do Sul, depois de Daniel Noboa, no Equador.

E nisso ele também se diferencia de Bolsonaro. As redes sociais do extremista argentino são acionadas por jovens com idades ao redor de 20 anos que militam via TiTok. A base virtual de Bolsonaro, sustentada por fake news, é tomada pelos tiozões do zap.

A eleição pode terminar hoje, se o voto escondido, que não se mostra nas pesquisas, aparecer com força, como acontecia aqui com Bolsonaro. Se houver segundo turno, começa tudo de novo até o dia 19 de novembro.

Publicado Originalmente no Blog do Moisés Mendes.

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/