
O nome de Gustavo Pires entrou com força no noticiário político nacional neste início de semana após a controvérsia envolvendo a exibição de um bandeirão dos Estados Unidos em um ato político na Avenida Paulista. Como presidente da SPTuris, empresa municipal de fomento ao turismo que é uma das organizadoras do evento da NFL em São Paulo, Pires tornou-se foco de um questionamento que mistura esporte, política e relações internacionais.
Sua trajetória na administração pública da capital é marcada por uma ascensão meteórica e pela proximidade com o ex-prefeito Bruno Covas, que morreu em maio de 2021, cinco meses após iniciar o segundo mandato, vítima de um câncer no aparelho digestivo.
Pires era íntimo de Bruno desde os tempos de estudante de Direito na Universidade Mackenzie. Aos 24 anos, recém-formado, em janeiro de 2017, assumiu um cargo de assessor na prefeitura assim que Covas tomou posse como vice de João Doria. O salário de R$ 4.937,49 passou a R$ 14.395,19 — um aumento de 292% — em abril do mesmo ano, quando foi promovido a Assessor Especial com a incumbência de cuidar da agenda do amigo na vice-prefeitura.
Dois anos depois, poucos dias após Covas assumir a prefeitura, foi promovido a secretário-executivo do gabinete, função que não existia na gestão Doria. Com 26 anos à época, passou a receber o equivalente a salário de secretário, tendo sido, segundo ele próprio expõe em seu currículo, o mais jovem a ocupar um cargo de primeiro escalão na prefeitura de São Paulo.
Chegou à SPTuris pelas mãos de Ricardo Nunes num acordo para preservar o time do ex-prefeito. A nomeação é de confiança e possui status de secretário municipal, com um salário que, atualmente, gira em torno de R$ 30 mil.
Na SPTuris, Pires se empenhou em trazer grandes eventos para a cidade. Seu nome está diretamente associado à vinda e organização de atrações como o Lollapalooza, a Fórmula 1 e, mais recentemente, os jogos da NFL (Liga Nacional de Futebol Americano dos EUA), que estrearam em São Paulo em 2024.
Arrastado para o centro da polêmica
O vínculo da SPTuris com a organização do evento da NFL acabou colocando Gustavo Pires no foco dos questionamentos. No domingo, 7 de setembro, data da Independência do Brasil, uma enorme bandeira dos Estados Unidos foi exibida por apoiadores de Jair Bolsonaro durante um ato na Avenida Paulista pedindo anistia para os golpistas de janeiro de 2023, para o ex-presidente e outros sete réus que compõem o núcleo mais relevante da ação penal no STF, totalizando oito no chamado “núcleo 1”.

A coincidência de cores e a logística necessária para confeccionar e exibir um artefato de grande porte levantou suspeitas imediatas de uma possível conexão entre o material do evento esportivo e seu uso em um ato político.
Diante disso, duas frentes de questionamentos se abriram: uma federal, para apurar se a exibição do símbolo norte-americano em um evento político doméstico contou com apoio ou financiamento de uma entidade estrangeira, no caso, a NFL, e outra municipal, que foca diretamente na SPTuris e, por consequência, em Gustavo Pires.
A questão central dessa segunda linha de investigação é saber se o bandeirão foi confeccionado com recursos públicos municipais destinados ao evento esportivo e, em caso afirmativo, se houve cessão do material para o ato político, o que configuraria irregularidade.
Até o momento, a SPTuris não se pronunciou oficialmente sobre as acusações. O DCM tentou contato com Gustavo Pires, mas ele não respondeu. A expectativa é que seja chamado a prestar esclarecimentos à Câmara Municipal e, possivelmente, aos órgãos de controle, para explicar os detalhes do contrato com a NFL e o destino dos materiais promocionais e de infraestrutura do evento.
A situação coloca o jovem presidente da SPTuris, que ascendeu na carreira, alavancado pela relação de intimidade com Bruno Covas, no desafio de dar respostas a questões que envolvem a gestão de recursos públicos e o uso de símbolos estrangeiros em atos políticos, em um contexto marcado pela insistência golpista mesmo diante da atuação da Justiça para coibir ações dessa natureza.
