
O DCM revelou no sábado, dia 16, que a Lava Jato propôs cláusulas extras, criou uma nova versão e negociou os termos da delação premiada do ex-executivo da Petrobras Pedro Barusco.
Foi no início de 2015 e Barusco era testemunha-chave do que a mídia chamava “Petrolão”.
O objetivo, indicam mensagens da Operação Spoofing que o DCM obteve, era incluir o PT entre as figuras delatadas com a intenção de atingir fins políticos e “derrubar a República”, nas palavras de Deltan Dallagnol.
Dallagnol, chefe da força tarefa, e o procurador Athayde Ribeiro analisaram os elementos disponíveis para incluir o Partido Progressista (PP) entre os entes que seriam beneficiados pelo esquema.
Em dado momento, Dallagnol observa que há “falta de prova do pagamento” de propina ao PP e a dupla passa a trabalhar com a hipótese de “provas diretas de valor relativo“, “prova indiciaria (sic)” e elementos de outras delações premiadas, como a de Alberto Yousseff (chamado apenas de “Y”) e a de Paulo Roberto Costa (identificado como “PRC”).
“Pensando aqui, tem o custo político de atacar o PP e não PT”, escreveu Dallagnol. A prática é ilegal, de acordo com a norma brasileira que regulamenta e deu origem ao instituto da delação premiada no Brasil (Lei Nº 12.850, de 2 de agosto de 2013).
A advogada de Barusco à época era Beatriz Catta Preta, que costurou ao menos nove acordos de delação.
Barusco se comprometera a devolver cerca de 300 milhões de reais das propinas que recebeu. Poucos meses depois, em julho, ela abandonaria os clientes rumo, oficialmente, a Miami, para encerrar a carreira. Nunca ficou bem explicado o porquê.
Catta Preta ganhou fama ao atender investigados interessados em colaborar em troca de benefícios. Os termos causavam estranheza entre os criminalistas.
Ela também defendeu Paulo Roberto Costa, outro protagonista do escândalo, que comandava o setor de Abastecimento da petrolífera. PRC é igualmente citado nos diálogos que o DCM publicou.
Teria Beatriz participado da negociação das delações? É difícil crer que Barusco tenha sido um episódio isolado.
“Os advogados podem criticar, gostar ou não. Eu acredito na delação como meio de defesa. É prevista em lei, agora regulamentada pela Lei 12.850. É sim um meio eficaz de defesa quando o réu se vê sem outra saída”, afirmou ela ao blog do jornalista Fausto Macedo, do Estadão, um dos maiores vazadores da turma de Curitiba.

Ao Jornal Nacional, Beatriz afirmou que passou a ser perseguida e intimidada por integrantes da CPI da Petrobras e que, por isso, teria se mudado para os EUA.
Um ano mais tarde, a história era outra: sentiu-se ameaçada por Lúcio Funaro, operador e delator do MDB, ao chegar um dia em casa e encontrar o doleiro sentado no sofá brincando com seus filhos.
Em outubro de 2015, os procuradores comentaram que achavam suspeita sua saída do país.
“Senhores, chegou ao meu conhecimento uma história de que o marido da Catta Preta estaria extorquindo pessoas que poderiam ser delatadas pelos clientes dela. pagamento (sic) no exterior. aí (sic) as pessoas começaram a ameaça-la (sic) e ela foi embora do Brasil”, disse Orlando Martello Júnior num chat com Deltan que o DCM postou com exclusividade.
“Ouvi por cima, mas sem nada que desse verossmilhança”, responde Dallagnol.
Carlos Eduardo Catta Preta, o homem a quem eles se referiam, conheceu a mulher Beatriz como cliente antes de os dois se casarem.
Foi preso em 2001 em Alphaville, São Paulo, com 50 mil dólares em notas falsas escondidas na cintura.
Agentes do Denarc – departamento de combate ao tráfico de drogas – ainda encontraram em sua casa ainda 350 mil dólares falsos escondidos no banheiro.
Carlos Eduardo foi condenado a três anos de prestação de serviços comunitários. Ele é quem cuidava das cobranças dos honorários dos clientes de Beatriz, chegando até a estabelecer os valores.
“Doutor Carlos” era conhecido pelos métodos indelicados para fazer as cobranças de honorários das famílias dos acusados.
