
A Lava Jato foi um ótimo negócio para muita gente. Com a missão de “representar clientes em investigações criminais e regulatórias, bem como em processos civis e criminais”, no último dia 29 de setembro o escritório de advocacia internacional Davis Polk & Wardwell anunciou Daniel Khan como seu novo sócio.
Como no caso de Sergio Moro na Alvarez & Marsal, o anúncio oficial foi feito com pompa e circunstância.
Khan foi saudado como veterano DA (Deputy Assistant Attorney General, o que no Brasil seria Subprocurador Geral da República) e oficial sênior do Departamento de Justiça.
“Dan se junta a um grupo fenomenal de advogados da Davis Polk em Washington, e sua experiência e o impressionante histórico no DOJ, nos Estados Unidos e no exterior, serão um trunfo significativo para nossa proeminente equipe de colarinho branco”, diz a nota.
O Wall Street Journal descreveu Dan como o “especialista mais reconhecido do DOJ na Lei de Práticas de Corrupção no Exterior”.
Daniel Khan teve atuação destacada na Lava Jato.
Em maio de 2019, o Estadão enviou uma repórter a Washington para entrevistá-lo. Chamava a atenção sua fala sobre a proximidade com os membros da República de Curitiba.
Ele afirmou que “a cooperação dos procuradores americanos com os brasileiros na Lava Jato permitiu aos países desenvolver laços de confiança e seguir com o trabalho até hoje”.
“Estamos muito, muito gratos pela oportunidade de trabalhar com os brasileiros. Tem sido uma das parcerias mais fortes que poderíamos ter com uma autoridade estrangeira”, relatava.
Para Kahn, o positivo neste “relacionamento bom e forte” é que “podemos chamá-los [os procuradores da Lava Jato] e dizer se há evidências do que estamos procurando e vice-versa”. Na visão dele, “o que geralmente isso permite é agilizar o processo de obtenção da prova do que se feita de uma maneira mais formal”.
Essa boa relação da qual ele fala na entrevista é o que se chama capital burocrático, valor potencial altamente remunerado pelo setor privado nas operações de porta giratória (“revolving door”, em inglês), que é quando um servidor público de alta patente troca seu excelente emprego numa carreira de estado, por um emprego ainda melhor, mais bem remunerado, no setor privado.
Segundo o ex-presidente Barack Obama, “um dos aspectos mais suspeitos da profissão de lobby é o chamado ‘revolving door’, por meio da qual os indivíduos deixam de servir em cargos públicos e passam a ser lobistas”.

Kahn ficou famoso como o chefe da investigação do escândalo da Alstom, no início da década passada. Frédéric Pierucci, executivo da companhia, revelou em seu livro “American Trap” [“Arapuca Estadunidense”, a ser lançado em breve pela Kotter Editorial] que o FBI lhe propôs virar informante. Recusou e foi preso.
Pierucci descreveu diversas reuniões com Kahn, que define como “jovem, ambicioso, brilhante” e alguém que “preferia nunca ter encontrado”. O caso terminou em 2014 como mais uma vitória dos EUA: a aquisição da Alstom pela General Electric por US$ 17 bilhões.
Ao invés de acusar, Kahn passará a defender seus clientes em investigações criminais.
Caso tenha que defender interesses de algum de seus clientes no Brasil, poderá lançar mão da sua rede de amigos lavajatistas.
A Davis Polk é especializada em finanças e assuntos correlatos – incluindo reestruturação de empresas, gestão de investimentos, fusões e aquisições.
Atende, desde agosto de 2020, um grupo de detentores de títulos de garantia (guaranteed notes) emitidos pela Odebrecht e algumas de suas subsidiárias em relação à reestruturação internacional consensual de aproximadamente US$ 3 bilhões.
Conta com uma representação no Brasil, com três advogados locais, e sua sede é em Washington, perto de onde Moro ficava.
Em abril de 2017, a Justiça dos Estados Unidos e a Odebrecht fecharam um acordo em torno de uma multa de US$ 2,6 bilhões a ser paga para autoridades brasileiras, norte-americanas e suíças.
Em audiência na corte federal do Brooklyn, em Nova York, o juiz distrital Raymond Dearie determinou que US$ 93 milhões (R$ 288,7 milhões) seriam destinados aos EUA, um recorde.
Kahn ministrará o curso “Investigação de Crimes Corporativos” no ano que vem na Harvard Law School, meca do judiciário brasileiro.