Nesta semana, o ex-presidente Lula se posicionou a favor da legalização do aborto por considerar que o assunto é uma questão de saúde pública. Tal declaração polemizou, dividindo opiniões entre ativistas, jornalistas e eleitores comuns que usam as redes sociais.
Na avaliação dos críticos que apoiam o petista, não é o momento de tratar de um tema considerado tão delicado, já que ele é o líder nas pesquisas e a posição pode afastar “conservadores”. Por outro lado, os defensores acreditam que o pré-candidato precisa deixar claro quais são suas visões para que o eleitor tenha total consciência em quem vai votar.
Por causa desta situação, nossa leitora Maria dos Anjos Cypriano enviou um depoimento ao DCM contando sua história. Mulher preta, católica e casada há mais de cinco décadas, ela revela no texto que realizou três abortos e se mostra favorável ao aborto seguro para qualquer cidadã, independentemente da sua cor e classe social.
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Confira abaixo o depoimento de Maria dos Anjos Cypriano
Ainda sobre a fala de Lula, respondendo a pergunta sobre o aborto: sou preta, tenho 72 anos, próximo aos 73, sou católica praticante, com o mesmo parceiro há 52 anos. Em mim foram realizados três abortos (por minha iniciativa e total responsabilidade).
Era o que entendi como melhor naquele momento. A primeira pessoa que é contra o aborto é a mulher submetida a essa prática. Por sorte, não tive sequelas e, como se percebe, sobrevivi.
Sou a favor do aborto, não como método anticoncepcional, mas quando a mulher assim o decidir. É questão de foro íntimo, respeitem. Que seja assistido sim, pela possibilidade de sequelas.
Curioso é que minha filha, que tem 35 anos e é candomblecista, é contra o aborto, mas não é ativista, diz que ela não se vê se submetendo.
Na minha experiência de mulher preta, baixa classe média do subúrbio do Rio de Janeiro, penso que, talvez, o que beneficiasse e atendesse às mulheres em muitos casos seriam os métodos cirúrgicos anticoncepcionais, laqueaduras e similares, ao alcance de quem desejar .
É desesperador transar e pensar “se eu engravidar?!”. Ao contrário, é liberador transar sem as trompas retiradas cirurgicamente, no meu caso aos 37 anos, no 2° parto.
Não desejo polemizar, somente apresentar, a quem interessar, meu testemunho.
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