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A ceder a fanáticos, Moro desceu mais uma volta na espiral da humilhação. Por Luís Felipe Miguel

Sérgio Moro. Foto: Sergio Lima/AFP

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO FACEBOOK DO AUTOR

Quando Bolsonaro anunciou que Moro seria o ministro da Justiça, muitos comentaristas na imprensa diziam que era uma manobra arriscada. Lembro de ter lido e ouvido, mais de uma vez: o presidente não deve nomear alguém que não possa demitir.

Não sei se era só uma maneira de abordar a nomeação de uma maneira que colocasse em segundo plano o escândalo que ela representava ou se era uma constatação autêntica. Mas esse era o discurso.

Com a imagem de herói da Lava Jato, o salvador que manda às favas tanto os escrúpulos quanto as leis para punir os corruptos, Moro seria um mito ao lado do mito. Teria luz própria, teria autonomia. De dentro do governo, poderia entrar em rota de colisão com o próprio Bozo.

Acho que na primeira semana de governo isso se desfez. O intrépido justiceiro de terno preto metamorfoseou-se no garoto de recados do bolsonarismo. Investiga o que o chefe manda, empurra pra debaixo do tapete o que lhe é determinado. Não toma nenhuma iniciativa, está quase escondido. Parece estar só esperando o tempo passar para ganhar sua agradável sinecura no STF, onde se sentirá em casa ao lado de Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Carmen Lúcia e o resto da turma.

O episódio envolvendo Ilona Szabó mostra que Moro desceu mais uma volta na espiral da humilhação. Szabó tem respeitabilidade em sua área de atuação e, por motivos que desconheço e sobre os quais não vou especular, aceitou um cargo bem desimportante (suplente de um conselho de política penitenciária) de um governo que não tem respeitabilidade em área nenhuma. Uma jogada óbvia, mas esperta, de Moro, que mostrava abertura para a sociedade civil e apreço à pluralidade com custo próximo do zero.

Em um governo de obtusos, essa esperteza causou revolta. O outrora poderoso Vychinski de Curitiba desconvidou Szabó em 24 horas, incapaz de resistir a uns tuítes de bolsomínions enfurecidos.

Moro, que antes desprezava olimpicamente a própria Constituição, agora não resiste ao alarido de meia dúzia de fanáticos. Está agarrado a seu cargo como um Bebianno qualquer.

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