A confissão de Jennifer Lawrence sobre as cenas de sexo de seu novo filme. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 20 de novembro de 2015 às 14:27
Sexo no cinema é mais difícil do que você imagina
Sexo no cinema é mais difícil do que você imagina

A atriz Jennifer Lawrence, eleita a mulher mais sexy do mundo em 2014 pela revista britânica “FHM”, fez um comentário no mínimo estranho sobre as cenas de sexo com o ator Chris Pratt para o filme Passengers.

A atriz, que até então não protagonizara cenas de sexo no cinema, declarou que considera a experiência “bizarra” e que precisou de alguns drinks para sentir-se mais à vontade – o que só agravou o desconforto causado pela situação. Ela disse que o fato de Pratt ser casado só complicou as coisas.

O que leva uma atriz – vencedora do Oscar e que atua no cinema desde 2008 – a precisar beber para aliviar o “desconforto” de uma cena de sexo?

Talvez o desejo de parecer pudica ou simplesmente a ideia arraigada – em todos nós, aliás – de que fazer sexo é um erro, vulgar ou condenável. Qualquer das opções é ligeiramente assustadora.

Há, decerto, no constrangimento declarado pela atriz um quê de antiprofissionalismo, já que estamos falando de uma cena de ficção entre dois atores consagrados, que teoricamente deveriam conseguir lidar tranquilamente com situações como esta – mas quem poderá julgar o nível de envolvimento físico e psíquico necessário para a produção de uma cena de sexo realmente convincente?

Talvez um processo de construção de cena e personagens mais cuidadoso tivesse ajudado. Algo que propiciasse o desprendimento e a intimidade entre os atores e criasse uma atmosfera de naturalidade para a gravação das cenas – o que não se pode afirmar com precisão, já que os atores não comentaram seus respectivos processos criativos.

A verdade é que o sexo – na ficção ou na vida real – está longe de ser visto (e, principalmente, vivido) com a naturalidade que lhe devia ser característica. Embora o sexo e a nudez sejam amplamente explorados pela indústria do entretenimento, permanecem envoltos em um manto de hipocrisia.

Um estudo realizado pela Universidade do Texas, em Austin, e publicado no “Archives of Sexual Behavior” em outubro de 2013, revelou que as mulheres arrependem-se mais de sexo casual. Muitas delas declaram que “sentem-se sujas”ou que “a ideia de que outra pessoa as veja nuas é assustadora”.

E mesmo que haja milhões de ensaios sensuais, cenas picantes e um mercado erótico a todo vapor, o sexo “à vera” continua demonizado, meticulosamente condenado pelo moralismo a ponto de uma atriz consagrada não conseguir sentir-se a vontade para representá-lo diante das câmeras.

Suposições de talento e profissionalismo à parte, a inegável realidade é que o desprendimento passa necessariamente pela ideia de auto-libertação – e esta, por sua vez, está condicionada ao modo como o mundo (e a mídia, especialmente) faz com que vejamos o sexo: sujo, proibido e pecaminoso – e talvez por isso tão excitante.

O sexo (e a nudez, consequentemente) precisa deixar de ser pivô de constrangimento e desconforto – ao tempo em que é explorado e retratado de uma maneira quase surreal – para ser visto e representado exatamente como é: natural, simples e prazeroso – como na recente produção Azul é a cor mais quente (2013), em que sensualidade e naturalidade são mescladas em uma proporção exata.

Não apenas a indústria cinematográfica, mas as pessoas, no mais íntimo de sua percepção, precisam deixar de atrelar o sexo à moral, ao pecado, ao proibido. Para que mais cenas sensuais no cinema sejam produzidas com verossimilhança, sem dor e sem culpa, e para que menos pessoas se sintam sujas por sentirem prazer.