A empresa francesa VEJA, sua relação com o Brasil e o Prêmio de sustentabilidade para empresas do The Guardian

Atualizado em 12 de março de 2013 às 14:06

É hora de discutir como premiar corretamente ações inovadoras de sustentabilidade nas empresas

pom pom

Começamos pelo último. Este é o terceiro ano em que a cadeia de comunicação britânica The Guardian, através do seu portal na Internet, lança o Guardian Sustainable Business Awards, que esteve aberto para inscrições até um mês atrás.

Está muito bem desenhado o prêmio.

Excelentes categorias abarcam diversos âmbitos da sustentabilidade coorporativa. São elas: biodiversidade, meio-ambiente construído, carbono, colaboração, comunicação, energia, engajamento de funcionários, inovação, impacto social, cadeia de fornecedores, lixo e reciclagem, água. Cada uma dessas categorias tem um patrocinador respectivo, que está direta ou indiretamente envolvido com o tema o qual patrocina.

O prêmio me parece um bom incentivo para as empresas e uma boa maneira de mostrar o que se tem feito nesse âmbito.

Entretanto, me parece um tanto equivocado a estas alturas avaliar as empresas de acordo com essas categorias de maneira isolada. Entendo que essa é uma prática habitual de diversos prêmios pelo mundo: construir categorias e premiar os concorrentes para cada uma delas, sendo que pode haver um ganhador diferente para cada categoria, e não importa se ele não tem nenhuma relação com as outras.

Mas sendo a sustentabilidade esse perceber o mundo de uma maneira holística, sistêmica e transversal a vários setores de nossa sociedade, acredito que uma premiação como essa deveria, em primeiro lugar, considerar empresas que desenvolvem ações em todas essas categorias de maneira conjunta, e então, talvez, premiar as empresas de acordo com a quantidade ou a intensidade de trabalho em cada uma delas.

Pois uma empresa que, por exemplo, recicle o seu lixo de maneira exemplar, mas que tenha um ambiente de trabalho hostil e cujos funcionários são explorados ou não se sintam bem no local onde passam 6 ou mais horas por dia, não me parece um bom exemplo de sustentabilidade.

Não se trata de uma critica à iniciativa do The Guardian: repito, me parece uma boa iniciativa. Mas quero propor essa reflexão, entendendo a sustentabilidade como algo que vai mais além da categorização. Desde o meu ponto de vista, com base no pensamento contemporâneo sobre o tema, sustentabilidade está no encontro dessas categorias todas e sem esses encontros, não há sustentabilidade.

Alguns produtos da Veja
Alguns produtos da Veja

Dito isso, passamos para o primeiro assunto: dentro da categoria Supply Chain, um dos dois vencedores  de 2012 foi a empresa de calçados francesa Veja, estabelecida em 2004 e que trabalha diretamente com pequenas cooperativas brasileiras de produção de algodão orgânico e borracha, e também com couro do Brasil.

O algodão é de uma região carente do Ceará e a empresa conseguiu uma certificação de produto orgânico para esses produtores; a borracha vem da Floresta Amazônica; e o couro, apesar de ser comprado de grandes produtores, porque só existe essa possibilidade, é tingido de maneira natural com acácia.

Os produtos de Veja são tênis e acessórios, que são montados em Porto Alegre e exportados para o mercado europeu. A empresa contribui no Brasil com a promoção de plantações ecológicas, campanhas contra o deflorestamento e cria empregos para famílias pobres, em uma política de defesa dos direitos dos trabalhadores.

Seu produto acaba lhes custando 3 ou 4 vezes mais caro que um produto similar produzido de acordo com as praticas de mercado comuns, que não têm em conta a sustentabilidade. E como eles conseguem competir dessa maneira? Não investem em marketing nem em publicidade e produzem por demanda, recebendo pedidos com até 6 meses de antecedência. E com tudo isso, seu lucro já ultrapassou o de alguns de seus competidores.

Mais produtos
Mais produtos

Com a empresa, seus fundadores, Sébastien Kopp e Ghislain Morillion, querem propor uma nova maneira de pensar e de atuar através da pergunta: Outro mundo é possível? Alem disso, defendem, em sua página na internet, que as boas intenções “não são suficientes”, e que “os discursos não servem para nada”, pois é necessário ter ações concretas.

Esse é um interessante exemplo de empreendimento holisticamente inovador e sustentável, cujos esforços tem impacto em toda uma gama de atores e setores envolvidos. Vale a pena conhecer mais sobre o site.

Um ponto negativo para a Veja: o site deles não tem tradução para o português.

Leia mais: The Guardian Sustainable Business Awards 2013.

Leia mais: Veja Projet