A esperança venceu o fascismo: Brasil elege Lula presidente pela 3ª vez

Vitória no 2o turno é uma resposta dos eleitores ao desastre que foi o bolsonarismo no poder

Atualizado em 30 de outubro de 2022 às 19:59
Lula em seu elemento: presidente do Brasil pela terceira vez

Luiz Inácio Lula da Silva, 76 anos, foi eleito neste domingo (30) para a Presidência da República. O candidato do PT liderou as pesquisas na corrida pelo Palácio do Planalto desde o início da campanha, inclusive neste segundo turno.

Conquista seu terceiro mandato, com 50,83% dos votos válidos, contra 49,17% de Jair Bolsonaro (PL). Com 99% da apuração concluída, Lula somava 59.596.247 milhões de votos e o atual presidente, candidato à reeleição, 57.647.404 milhões.

Preso injustamente pela operação Lava Jato, a maior farsa jurídica do País, Lula amargou 580 dias na sede da Polícia Federal em Curitiba entre 2018 e 2019 e ficou fora da disputa de 2018, que elegeu Bolsonaro.

“A Lava Jato deixou um rastro de destruição no País de uma forma sem precedentes na história recente da nossa jovem democracia”, disse ao DCM o coordenador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio Carvalho.

“Poderíamos ter sido privados desse governo desastroso, genocida, que nos envergonha diante do Brasil e do mundo”, complementa o jurista. “O bolsonarismo é filho de pai e mãe da Lava Jato”.

O encarceramento ilegal de Lula, que o submeteu a quase dois anos de isolamento, não tirou sua resiliência.

Foi proibido de conceder entrevistas, de deixar a prisão para acompanhar o sepultamento de seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, mas não esmoreceu.

Leu muito, se exercitou, recebeu visitas, centenas de cartas e também a solidariedade de milhares de militantes agrupados na Vigília Lula Livre, às barbas da Polícia Federal.

Ainda no cárcere, anunciou que estava namorando a socióloga Rosângela Silva, a Janja, com quem se casou na noite de 18 de maio de 2022, em uma casa de festas na zona Sul de São Paulo.

Pouco conhecida em seu entorno político até ser anunciada como namorada de Lula, Janja ganhou cada vez mais espaço na agenda do marido candidato. Veio de mansinho e chegou a figura central da campanha.

Sua desenvoltura e espontaneidade, a força com a qual expõe suas ideias remetem a outra personalidade feminina de há cem anos: Patrícia Galvão, a Pagu, líder comunista que começou como coadjuvante e terminou como uma das principais integrantes do agora centenário movimento Modernista de 1922.

Janja tem a mesma fibra da ex-mulher de Oswald de Andrade e foi logo deixando claro que pretendia “ressignificar” o conceito de primeira-dama, caso o marido fosse eleito.

A vitória de Lula é festejada por todo o País, em uma das maiores manifestações cívicas que se tem notícia na história contemporânea brasileira.

O presidente eleito, após o desgastante processo em que teve de enfrentar um homfóbico, odiador de pobres e mentiroso contumaz, merece celebrar também. Depois o melhor a fazer é descansar, porque terá de se confrontar com um Brasil adoecido, exausto após quatro anos sendo administrado por um irresponsável, citado por todos como genocida.

Segundo o cientista político e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Participação, Movimentos Sociais e Ação Coletiva (Nepac), da Unicamp, Wagner de Melo Romão, Lula terá de dar respostas aos problemas da fome e do desemprego.

“É isso que fará com que tenha mais ou menos estabilidade em seu governo”, avalia. “Disso vai depender também a relação que irá estabelecer com o Congresso Nacional”.

Lula e Zeca Pagodinho, um dos artistas que o apioaram na reta final da campanha. Foto: Reprodução

Para Romão, se o governo passar a resolver ou ao menos dar encaminhamento a essas questões mais urgentes, há uma tendência de um período com alguma tranquilidade nos próximos anos.

Outro pepino enorme que Lula terá de encarar é a cúpula militar.

Há dezenas de membros das Forças Armadas alinhados a Jair Bolsonaro agarrados a cargos públicos, sem querer perder a boquinha. É sabido que são hostis ao PT, especialmente após a criação da Comissão da Verdade no governo Dilma Roussef.

Para o cientista político João Roberto Martins Filho o grande entrave é lidar com o que ele chama de “problema militar” – um termo que impele a reflexões mais complexas do que simplesmente a substituição de cargos.

“É preciso saber o que queremos de nossas Forças Armadas? Como afastá-las da política? Como fazê-las obedecer ao poder civil? Esse deve ser o verdadeiro problema a ser resolvido e para isso será necessária muito engenho e arte.”

A vitória de Lula foi comemorada até mesmo por políticos do exterior.

Para a deputada do Partido Comunista Português (PCP) no Parlamento Europeu, Sandra Pereira, a vitória do ex-presidente representa um sinal de esperança e de confiança no futuro para o povo brasileiro.

Segundo a eurodeputada, “esta é a oportunidade de o povo brasileiro afirmar a vontade de retomar e aprofundar um caminho de progresso social, de desenvolvimento, de soberania, de cooperação e de paz. Um caminho que foi aberto em 2002 com a primeira eleição de Lula da Silva como Presidente do Brasil.”

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