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A esperteza de Deltan Martinazzo e sua incrível capacidade de sobrevivência. Por Moisés Mendes

A Lava-Jato bisbilhotou a vida de políticos com foro privilegiado. Quem quiser que acredite na explicação de Deltan Dallagnol de que os nomes de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre estão ao acaso em listas de suspeitos de receber dinheiro de empresas investigadas por lavagem de dinheiro.

A Lava-Jato queria chegar às doações do grupo cervejeiro Petrópolis, que lavava dinheiro da Odebrecht. Os políticos aparecem na lista de beneficiados porque receberam as doações (ou propinas), e não porque seriam investigados. É o que diz a Lava-Jato.

E a segunda explicação, sobre o uso de nomes pelos quais os dois não são conhecidos, “Rodrigo Felinto” e “David Samuel”, ainda é mais esdrúxula.

Os nomes completos são: Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia e David Samuel Alcolumbre Tobelem. Mas Dallagnol diz que os nomes estão ‘resumidos’ porque os nomes completos não cabiam na linha do formulário com as informações.

É como se a Lava-Jato, ao requerer alguma coisa em nome de Dallagnol, usasse seu nome e o primeiro sobrenome: Deltan Martinazzo. Ninguém sabe quem é Deltan Martinazzo. Assim como ninguém saberia que Sergio Fernando é Sergio Fernando Starke Moro.

Está cada vez mais evidente que a Lava-Jato requeria direito a investigações usando os nomes menos conhecidos dos políticos, para burlar controles e não levantar suspeitas.

A capacidade de sobrevivência de Dallagnol é impressionante. Foram 17 os processos administrativos contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Todos foram julgados e ele recebeu apenas uma advertência.

Dallagnol já foi atacado por todos os lados pelas esquerdas, já enfrentou a chefe dele no MP, Raquel Dodge, que o flagrou tentando ‘gerir’ R$ 2,5 bilhões da Petrobras (e cassou seu projeto), já foi grampeado com conversas indecorosas sobre como ficar rico com palestras e agora sofre o cerco de Augusto Aras.

Mas Dallagnol e Sergio Moro, o ex-juiz que que agia como se fosse seu chefe na Lava-Jato, sempre vencem. Moro talvez não escape do processo de suspeição, que depende do voto do ministro Celso de Mello.

O ex-juiz largou a magistratura e aderiu ao governo de milicianos de Bolsonaro na esperança de que seu caso no Supremo perderia relevância e que ele seria esquecido junto com os delitos que cometeu em Curitiba. Agora sem suporte político da extrema direita, dificilmente escapará.

Mas Dallagnol, o chefe da grampolândia da Lava-Jato, considera-se imune. Se a PGR não enquadrá-lo (ainda tem uma investigação sobre o famoso powerpoint de Lula), é provável que daqui a alguns dias apareça mais um delito do procurador e nada aconteça com ele.

Esse é Deltan Martinazzo, o cara que o próprio chefe insinua ser líder de ações clandestinas dentro do Ministério Público.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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