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A execução de Marielle Franco escancara a farsa da intervenção no Rio. Por Kiko Nogueira

Marielle Franco

Nove tiros assinalam o fracasso da intervenção militar no Rio de Janeiro.

Eles alvejaram a vereadora Marielle Franco, do Psol, assassinada no bairro do Estácio.

Aconteceu por volta das 21h30 na Rua Joaquim Palhares.

O motorista que estava com ela também foi morto. A assessora sobreviveu.

Nada foi roubado.

A Delegacia de Homicídios afirma que a principal linha de investigação é execução.

Marielle havia acabado de sair de um evento chamado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, na Rua dos Inválidos, na Lapa, e seguia para sua casa na Tijuca.

Um dia antes, ela postou nas redes sociais um libelo curto:

“Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”

Marielle era relatora da comissão que acompanha a intervenção no Rio.

No último dia 11, denunciou a violência policial na Favela de Acari.

“Precisamos gritar para que todos saibam o que está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, escreveu. 

Marielle se apresentava como “cria da Maré” e foi a quinta vereadora mais votada em 2016, com 46 502 votos.

Socióloga formada pela PUC-Rio e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense, teve dissertação de mestrado com o tema “UPP: a redução da favela a três letras”.

Torna-se agora, morta, símbolo de uma guerra antiga e sem fim, maquiada por um governo corrupto e incompetente com tanques e soldados investindo sobre os suspeitos de sempre.

Segurança pública? Onde? Para quem?

“Quem cala sobre teu corpo consente na tua morte”, cantava Milton Nascimento.

Agora, mais do que nunca, é hora de não se calar.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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