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A justificativa do Facebook para permitir tantas páginas de ódio

 

Há algo de podre nas regras das comunidades do Facebook. A rede social ignora as denúncias de fanpages com conteúdos discriminatórios ou violentos como ofensas racistas, fotos de violência policial, vídeos de linchamentos, suicídios e corpos estraçalhados em acidentes.

Denunciei quatro delas ao Facebook. Uma de viés preconceituoso sob a justificativa de “denunciar e proteger brancos de racismo”, outra de apoio a Patrícia Moreira (torcedora que xingou o goleiro Aranha) e uma página com mais de 10 mil curtidas  “para quem não tem pena de bandido”. Por último, uma página especializada em conteúdos macabros: vídeos com execuções, vísceras expostas, acidentes, doenças e tudo mais que possa embrulhar estômagos normais e provocar deleite em psicóticos.  Juntas elas têm mais de 36 mil seguidores.

As respostas chegaram poucas horas depois das denúncias, com um agradecimento e a informação de que as páginas não violam os “Padrões de comunidade”.

Em seguida denunciei conteúdos específicos, segundo orientação do próprio Facebook: uma charge mostrando uma moça loira identificada como “Europa” chutando o traseiro de um porco barbudo com turbantes e um exemplar do Alcorão, um vídeo de linchamento ocorrido no Ceará e as fotos dos corpos de dois suspeitos de assassinato supostamente mortos pela Polícia Civil no Amazonas.

Mais uma vez as respostas vieram em poucas horas: “agradecemos o tempo dedicado em denunciar algo que você acredita violar nossos padrões da comunidade. Denúncias como a sua são uma parte importante do processo para tornar o Facebook um local seguro e acolhedor. Analisamos a publicação denunciada por você por assédio e descobrimos que ela não viola nosso (sic) Padrões de comunidade”.

Cinismo no melhor estilo Paulo Maluf. Como os administradores não fazem nada para limpar a página, a saída é denunciar nos órgãos competentes: Polícia Federal (http://denuncia.pf.gov.br/) e Ong Safernet (http://www.safernet.org.br/site/denunciar). Foi o que fiz.

Analisando os “Padrões da comunidade” dá para entender porque essas denúncias são sistematicamente ignoradas.  Não há, no documento, referências explícitas a racismo, homofobia, execuções ou tortura. O texto é evasivo e dá margem às várias interpretações que permitem a exibição de um cadáver mutilado sob a justificativa descarada de promover a educação no trânsito.

O termo é dividido em tópicos como “Violência e ameaças”, “automutilação”, “discurso de ódio” e “sexo”, entre outros.

Curiosamente, o tópico sobre sexo é um pouco mais objetivo: “O Facebook tem um (sic) política rígida contra o compartilhamento de conteúdo pornográfico e qualquer conteúdo sexualmente explícito onde um menor de idade está envolvido. Também impomos limitações na exibição de nudez”. Daí a implicância com fotos de mamilos expostos e a censura ao calendário das remadoras britânicas da Universidade de Warwick.

O Facebook diz que sua missão é “dar às pessoas o poder de compartilhar informações e fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado”. Com tantos conteúdos repugnantes, seria melhor abusar da franqueza e admitir que o objetivo é ganhar dinheiro com o maior número possível de usuários. Só isso.

 

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

Marcos Sacramento

Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

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