A Lava Jato passará à história como uma tragédia para o Brasil. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 15 de outubro de 2019 às 14:44
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. – Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasíl

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POR LUIS FELIPE MIGUEL

Colunista da Folha fala da Lava Jato e, antes de chegar a uma constrangida defesa da liberdade para Lula, aponta “seus [da LJ] evidentes abusos, cometidos sob a guarida de seus inegáveis méritos”.

É o discurso dominante, mesmo à esquerda. Mesmo no PT. Mesmo Lula, emblema maior do que significou a operação, faz questão de distribuir alguns elogios a ela.

Há medo de enfrentar o clima de opinião pró-Lava Jato, alimentado durante anos pela mídia.

Cabe lembrar que esse clima de opinião é indistinguível de outro, do qual ele nasce, punitivista e contrário aos direitos. A covardia ao confrontá-lo é uma cumplicidade com os retrocessos.

E cabe perguntar: quais são os “inegáveis méritos” da Lava Jato?

Uma operação desenhada e dirigida por criminosos, que teve como objetivos principais a destruição da democracia brasileira e a ampliação do controle estrangeiro sobre a economia nacional.

Se prendeu alguns corruptos, fê-lo de forma seletiva, à margem da lei e reforçando o discurso de que direitos e garantias são estorvos a serem superados. Reforçando, também, a visão interessada que singulariza a corrupção como grande problema do Brasil, o mal contra o qual valem todas as armas, isolando-a das outras formas de captura do Estado pelos interesses do capital.

A Lava Jato passará à história como uma tragédia para o Brasil. Contemporizar com a conspiração comandada por Moro e Dallagnol não é uma opção aceitável.