A leniência e a cumplicidade dos militares brasileiros com os golpistas. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 0:30
Júlio César de Arruda fardado, falando e gesticulando
O ex-comandante Júlio César de Arruda – Divulgação

O 8 de janeiro e seus desdobramentos revelaram – mais uma vez, de forma cabal – a leniência e a cumplicidade dos militares brasileiros com os golpistas.

O comandante do Exército, general Julio César Arruda, se recusou a cumprir uma ordem direta de Lula, isto é, decidiu peitar o presidente. Depois de episódios de insubordinação no 8 de janeiro, Arruda se recusou a substituir o chefe da guarda presidencial, cargo obviamente sensível e em quem, por motivos igualmente óbvios, era impossível manter qualquer confiança.

Se não fosse demitido, a autoridade do poder civil seria comprometida de forma irremediável.

O substituto, general Tomás Ribeiro Paiva, não é exatamente democrata. Foi ligado a Villas Boas, talvez o principal responsável pela desenvoltura fascistoide com que os fardados brasileiros hoje se movem no cenário político.

Mas ele fez um discurso em que defendeu com veemência o respeito ao resultado das eleições. Falou o que era importante ser dito no momento, não importa se por convicção ou por oportunismo. A nomeação sinalizou que é essa postura, legalista, que será premiada daqui para a frente. E é esse o recado a ser passado.

Lula não está protegendo apenas o seu mandato. O que está em jogo é a primazia do poder civil, logo a possibilidade de vigência da democracia.

Ainda não está claro como o governo pretende fazer para enquadrar Forças Armadas que são notoriamente autoritárias, indisciplinadas e corruptas. Parece querer agir de forma prudente, punindo gestos mais ostensivos, fazendo vista grossa para outros, premiando posições legalistas. Dosar prudência e força, porém, não é fácil. Ao demitir Arruda, Lula traçou um primeiro limite – e isso é positivo.

Por fim, o indefectível Mourão decidiu dar seu pitaco, dizendo que Lula quer “alimentar a crise” ao demitir o comandante golpista do Exército.

Mourão tenta se credenciar como herdeiro de Bolsonaro – um movimento oportunista, mas que combina com o fascistão que sempre foi. Ao criticar Lula, ele desvelou o que é a opção “correta” das relações civis-militares para ele: generais fazendo o que lhes dá na telha, impunemente, e o poder civil amedrontado. Se ele pensa isso, é mais um motivo para fazer o contrário.

Originalmente publicado no FACEBOOK do autor

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