A lição de democracia de Caetano e Paula Lavigne ao processar seus difamadores e fazê-los pagar. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de novembro de 2017 às 16:43
Paula Lavigne e Caetano

Um leitor do DCM comentou, a respeito da condenação na Justiça de um escritor de extrema direita que chamou Caetano Veloso de “pedófilo” nas redes sociais: o cantor baiano está lavando a alma de muita gente.

Acrescentaria o seguinte: Caetano está lavando a alma da democracia.

Nos últimos anos, a extrema direita mais indigente e histérica se prestou a caluniar e difamar à vontade seus “inimigos”, sem medo de ser feliz.

Tinha a mídia ao seu lado. Tinha um ambiente propício. Os extremistas se beneficiaram do “republicanismo” do PT, de um ministro da Justiça inapetente, dos justiceiros da Lava Jato e da sensação de impunidade.

Da política, migraram para a moral e os bons costumes, invadindo exposições de arte aos berros, apelando para a censura, imputando crimes aos adversários.

A atitude de Caetano é pedagógica. É um basta.

Alexandre Frota e os líderes do MBL Kim Kataguiri, Renan dos Santos e Vinicius Aquino foram acionados e obrigados a retirar do ar as postagens ofensivas. A multa para o descumprimento era de 10 mil reais por dia.

Na sequencia, o escritor Flávio Azambuja Martins, auto batizado Flávio Morgenstern (“estrela da manhã” em alemão), criador e disseminador da hashtag #caetanopedofilo, foi obrigado a apagar as mensagens injuriosas.

A juíza Flavia Alves, da 14ª Vara Cível do Rio de Janeiro, também determinou que o cidadão se abstenha de postar mais ofensas.

Faltava o mentor intelectual da turma, o guru Olavo de Carvalho, especialista em toda sorte de baixarias contra “comunistas”, grande disseminador do ódio mais abjeto sob um verniz pseudo intelectual.

Caetano pede indenização de 150 mil reais por direito de imagem e dano moral no caso de Olavo. No de Azambuja, são 200 mil.

Da Virgínia, nos EUA, onde se refugia, o mestre sugeriu o que o pupilo Azambuja deveria dizer ao juiz: “Se Vossa Excelência me indicar, em vez de ‘pedófilo’, algum outro termo da língua portuguesa apto a descrever com precisão o homem de quarenta anos que faz sexo com uma menina de treze, concordarei que disse uma coisa inapropriada.”

As ações tramitaram rapidamente porque Caetano pediu priorização pelo fato de ter 75 anos. 

O pensador austríaco Karl Popper criou o paradoxo da tolerância: tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da mesma.

Não tem nada a ver com liberdade de expressão. É crime. E, numa sociedade civilizada, o preço a se pagar por não fazer nada é sua destruição.