A longa agonia de Fachin. Por Leandro Fortes

Atualizado em 23 de março de 2021 às 22:53

Por Leandro Fortes

Fachin

De toda a sucessão de eventos transmitida pela internet para o Brasil e o mundo, relativa ao julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, nada foi tão simbólico da degradação resultante da Operação Lava Jato, na estrutura orgânica do Poder Judiciário, do que o surto final do ministro Edson Fachin.

Como naquela cena de “Zoolander”, na qual o personagem de Ben Stiler, incapaz de assimilar a derrota, sobe ao púlpito de um concurso de beleza para receber um prêmio outorgado a seu principal inimigo, o inconsciente de Fachin o obrigou a entabular um discurso de vitória sem fazê-lo perceber que, naquele momento, não havia ninguém naquela histórica transmissão mais derrotado do que ele.

Com uma aparência fantasmagórica, impulsionado por uma força ainda misteriosa centrada na origem de sua conversão de frenético apoio ao lavajatismo, Edson Fachin danou-se a falar, imerso em uma ilusão ultradimensional, transportado, por um desespero quase sólido, de tão visível, para a areia movediça do rídículo, do bizarro – esse campo da infâmia onde os traidores e os covardes encerram carreiras que lhes pareciam tão promissoras.

A presidenta Dilma Rousseff cometeu alguns erros, é fato, mas a indicação de Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal não foi um deles. Dilma, nessa caso, foi vítima de uma traição vil. O nome de Fachin foi chancelado por diversos setores da esquerda do Paraná, dada sua atuação histórica, como advogado, na defesa da reforma agrária e dos direitos humanos. Teve apoio do MST e de boa parte do PT, partido para o qual posou, em depoimento gravado, prestando apoio público à candidatura de Dilma, em 2010.

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A indicação de Fachin ao STF, em 2015, foi tão tumultuada, que Dilma pensou em desistir dela, dada a possibilidade de o Senado Federal rejeitar a presença de um esquerdista tão radical na conservadora Suprema Corte brasileira.

Fachin tomou posse como ministro do STF em 16 de junho de 2015. Em 13 de julho do mesmo ano, portanto, 27 dias depois, o procurador federal Deltan Dalagnol, chefe da força tarefa da Lava Jato, em Curitiba, enviou a seguinte mensagem a seus capangas, em uma conta do Telegram: “Aha, uhu, o Fachin é nosso”.

As razões dessa súbita cooptação e a conversão de Fachin a escudeiro da Lava Jato no STF ainda são um mistério, mas não é delírio deduzir que há alguma coisa muito grave nessa relação do ministro com a quadrilha comandada por Sérgio Moro e Dalagnol. Desde sempre, ficou evidente a submissão do ministro a uma gangue montada, com dinheiro público, para prender Lula e destruir as indústrias naval, de construção civil e de petróleo do País, sob comando de autoridades dos Estados Unidos e da Suíça.

A cena final do julgamento da suspeição de Moro, na qual Fachin aparece balbuciando frases desconexas, dando satisfação a interlocutores ocultos, apenas reforça essa suspeita.

Ainda irá se passar muito tempo até a História do Brasil registrar cena, ao mesmo tempo, tão humilhante e sinistra como essa protagonizada por Fachin, uma performance que, de tão triste, pareceu a agonia de um animal mortalmente ferido.

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