A ‘religião do eu’ e o rosto dilacerado da Amazônia, de acordo com o Papa Francisco

Atualizado em 28 de outubro de 2019 às 11:32
Papa Francisco

Publicado originalmente no Instituto Humanitas da Unisinos

“Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, apaga as suas gestas, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens. Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, mesmo hoje! Vimo-lo no Sínodo, quando falávamos da exploração da criação, da população, dos habitantes da Amazônia, da exploração das pessoas, do tráfico das pessoas! Os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa irmã terra: vimo-lo no rosto dilacerado da Amazônia”, afirmou o Papa Francisco na homilia proferida na missa com que foi concluído o Sínodo para a Amazônia, no dia 27-10-2019.

E o Papa Francisco continuou:

“A religião do eu continua, hipócrita com os seus ritos e as suas orações: muitos dos seus praticantes são católicos, confessam-se católicos, mas esqueceram-se de ser cristãos e humanos, esqueceram-se do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo cristãos que rezam e vão à Missa ao domingo são seguidores desta «religião do eu». Podemos olhar para dentro de nós e ver se alguém, para nós, é inferior, descartável… mesmo só em palavras. Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e vilipendiadores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus. E providencialmente, nesta Missa de hoje, acompanham-nos não só os indígenas da Amazônia, mas também os mais pobres das sociedades desenvolvidas, os irmãos e irmãs doentes da Comunidade da Arca. Estão conosco, na primeira fila”.

O grito dos pobres é o grito de esperança da Igreja

Logo após a missa, no tradicional ‘Angelus’, o Papa Francisco voltou a se referir ao grito dos pobres e da terra.

“O grito dos pobres, juntamente com o grito da terra, se uniu ao da Amazônia. Depois de três semanas não podemos fazer de conta que não o ouvimos. As vozes dos pobres, juntamente com aquelas de tantos outros dentro e fora da Assembleia sinodal – Pastores, jovens, cientistas – nos desafiam a não permanecermos indiferentes. Muitas vezes ouvimos a frase: “mais tarde é muito tarde”: esta frase não pode ser simplesmente um slogan”.

Em outro momento o Papa Francisco voltou a se referir ao grito dos pobres:

“Quantas vezes, também na Igreja, as vozes dos pobres não foram ouvidas e até ironizadas ou caladas porque eram incômodas. Rezemos pedindo a graça de saber ouvir o grito dos pobres: é o grito de esperança da Igreja. O grito dos pobres é o grito de esperança da Igreja. Fazendo nosso o grito dos pobres, também a nossa oração, estamos seguros, atravessará as nuvens”