A vitória histórica de Dom Orlando contra o dragão da maldade. Por Romero Venâncio

Atualizado em 13 de outubro de 2022 às 11:45
Dom Orlando Brandes. Fonte: Reprodução

Por Romero Venâncio

12 de outubro de 2022. Um dia histórico num Brasil em transe. Para a tradição católica romana, trata-se de celebrar o dia de Nossa Senhora Aparecida. Numa decisão política, foi definida como “Padroeira do Brasil”. Lugar de romaria. Lugar de romeiros e romeiras. Aparecida virou no cancioneiro popular o lugar de convergência de toda uma religiosidade popular católica brasileira e latino-americana.

Um santuário onde os aflitos acorrem para afogar suas mágoas e receber socorro espiritual. Já foi sede de uma conferência episcopal da América latina, América Central e Caribe. Nos últimos anos, Aparecida em 12 de outubro vira foco para todo o Brasil. E em época de eleição, vira atração para políticos à cata de votos onde a fé se apequena.

A arquidiocese de Aparecida desde 2016 tem como arcebispo Dom Orlando Brandes. Nascido em Santa Catarina, havia sido bispo em Londrina e Joinville antes de o Papa Francisco em 2016 nomeá-lo para pastorear o santuário de Aparecida e toda a arquidiocese. Em 2019, Dom Orlando “viralizou” nas redes sociais com trechos de uma pregação inesperada sobre a Amazônia como casa comum, como lugar de proteção.

A Igreja Católica estava preparando o Sínodo da Amazônia e havia entrado em conflito com o governo Bolsonaro com sua desastrosa política ambiental. Disse Dom Orlando à época: “Estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano II”. O prelado católico respondia a uma extrema direita católica e nem tanto, que fazia coro com Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente que estavam sendo coniventes com a devastação da Amazônia e toda uma biodiversidade.

O bispo foi direto num ponto: o “dragão do tradicionalismo” não é bem-vindo na Igreja. Para ele, a direita é violenta e injusta. Incomodou bolsonaristas e a extrema direita católica. E a história lhe deu razão.

Em outubro de 2020, voltou a defender o meio ambiente, a Amazônia e o Pantanal. Falou de maneira categórica num pedido a Padroeira do Brasil: “Mãe Aparecida, não deixais que o nosso Brasil se perca em chamas”. O bispo alertava e nos chamava a atenção para uma Amazônia que queimava em chamas e avançava num desmatamento insano. O bispo como um profeta dos nossos dias atacava um governo inimigo das grandes questões ecológicas.

Em 2021, Dom Orlando voltou no dia 12 de outubro a fazer o seu mais eloquente sermão. Direto e incisivo: “Pátria amada não é Pátria armada”. Não foi recado, foi alerta. Foi denúncia. Foi posicionamento evangélico. Dom Orlando avisava aos fiéis católicos que a “cultura da violência” e toda esta propaganda em defesa de armas não corresponde teologicamente a vocação da Igreja e menos ainda deve ser à posição dos cristãos. “Jesus rejeitou a espada”, disse o prelado católico numa basílica lotada e que o aplaudiu.

Em 12 de outubro de 2022, Dom Orlando não recuou em nada na forma e no conteúdo de seus últimos sermões anuais. Numa basílica de Aparecida lotada e numa pregação de 12 minutos, o bispo foi cirúrgico e profético. Escolheu a metáfora teológica do “dragão”. Muito nos lembrou o “Santo guerreiro” contra o “dragão da maldade” do saudoso cineasta Glauber Rocha que nos anos 60 e em linguagem alegórica nos fazia pensar mais fundo sobre os destinos de um Brasil dominado por uma ditadura cruel e implacável. Violenta e assassina.

Dom Orlando nos perguntou sobre os “caminhos de Maria” contra os dragões da maldade que tanto massacram nosso povo pobre. O bispo lembrou num momento poético-teológico que as “populações indígenas são as pupilas de nossa senhora”. Lembremos que a população indígena deste país é odiada por Bolsonaro e sua turma. Nunca esqueçamos. Continuou o prelado: “Maria venceu o dragão” e destacou as formas atuais do dragão: da fome, do medo, do mal, da violência. Afirmou: “vamos vencer o dragão do ódio que faz tanto mal.”.

Impossível não vemos na pregação de Dom Orlando uma mensagem direta ao governo Bolsonaro carregado de ódio, mentira e desprezo aos direitos humanos e ambientais. O bispo louvou as mulheres na figura de Maria de Nazaré (sabemos que Bolsonaro odeia as mulheres!!!), saudou a pastoral da criança e encerrou sua fala sobre “caminho de Maria” como o caminho do trabalho. Dom Orlando lamentou o desemprego e o sofrimento da classe trabalhadora em dias atuais.

Um discurso profético na tradição de tantos santos guerreiros contra os dragões de tantas maldades construídas na história. Haveremos de amanhecer.

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