Adulterações em livros psicografados de Chico Xavier dividem a comunidade espírita

Atualizado em 29 de fevereiro de 2024 às 11:36
Chico Xavier psicografando uma mensagem na redação do GLOBO em 1956 — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO

Um grupo composto por amigos e estudiosos que conviveram com o médium Chico Xavier revela ter identificado adulterações em 117 livros reeditados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), a principal instituição entre os espíritas, conforme informações do jornal O Globo.

Entre os defensores do afastamento desses livros das prateleiras estão expoentes do espiritismo, como o médium Carlos Baccelli e Sonia Barsante. Eles argumentam que os danos doutrinários resultantes da leitura desses volumes são muito mais significativos do que os prejuízos financeiros.

“Defendo que as obras adulteradas, após 2012 com maior intensidade, deveriam ser todas retiradas do mercado, para que as pessoas não tenham mais acesso a elas e ninguém mais possa ser enganado”, observa Roberto Salgado Filho, presidente do Lar Espírita Jarbas Leone Varanda, de Uberaba (MG), que participou da pesquisa.

Alguns chegam a defender a incineração dos livros, como ocorreu com uma publicação considerada inadequada anteriormente.

A FEB, no entanto, não considera a possibilidade de descartar as obras. Segundo o vice-presidente da entidade, Geraldo Campetti, responsável pela editora que publica a obra de Chico Xavier, não há razão para se desfazer das publicações.

“Isso evidentemente não vai acontecer. E é um absurdo sem tamanho. A gente tem que ter, no mínimo, bom senso para pleitear as coisas. Não tem cabimento as obras serem retiradas do mercado. Evidentemente, elas beneficiam milhões de pessoas no Brasil e no mundo”, responde Campetti.

Quadro comparativo das primeiras edições dos livros psicografados por Chico Xavier com as reedições após 2012 — Foto: Élcio Braga
Quadro comparativo das primeiras edições dos livros psicografados por Chico Xavier com as reedições após 2012 — Foto: Élcio Braga

O debate gira em torno da questão de saber se as mudanças descaracterizam os textos originais. Campetti destaca que o trabalho editorial da instituição é histórico e que as atualizações realizadas foram dentro dos critérios de seriedade que uma editora deve adotar.

“Atualizações ortográficas e correções gramaticais e semânticas foram realizadas, naturalmente, no decorrer das publicações, dentro dos critérios de seriedade que uma editora deve adotar. Falar em “adulteração”, com a carga pejorativa do termo, evidentemente não cabe, considerando o cuidadoso processo de edição das obras psicografadas por Chico Xavier e publicadas pela FEB”, pondera Campetti, que garante ter sido mantido o pensamento e estilo dos autores.

Por outro lado, o pesquisador Nuno Emanuel afirma que as mudanças adulteram tanto em termos literários quanto doutrinários. Ele aponta que as alterações mais graves estão na coleção “O Evangelho por Emmanuel”.

“Não são alterações. É muito mais grave. Em termos jurídicos são adulterações. Basta consultar leis básicas de direito autoral e moral. A FEB reuniu todos os livros, de várias editoras, em que Emmanuel cita centenas de trechos evangélicos do Novo Testamento, para em função da tradução que ele escolheu, fazer os respectivos comentários. O que a FEB fez? Eliminou a tradução de Emmanuel”, afirma Nuno.

“Substituiu-a por duas traduções: uma da FEB para cinco volumes e outra católica para outros dois volumes. Ambas as traduções bem diferentes do livro original de Emmanuel, com centenas de palavras diferentes. Resultado: o que Emmanuel comenta perde todo o sentido”.

A obra psicografada por Chico Xavier é considerada valiosa não apenas pelo aspecto doutrinário, mas também por seu significado histórico. Entre as obras nas mãos da FEB está o best-seller “Nosso Lar”, lançado em 1944. Vale destacar que o título já vendeu mais de 2,3 milhões de exemplares em 80 anos, o maior fenômeno editorial do médium mineiro.

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