A já saudosa Palmirinha, morta aos 91 anos no dia de ontem, foi muito mais do que uma apresentadora e cozinheira. Ela desafiou as injustiças de uma época em que eu – e provavelmente você – não era sequer nascida.
Aos sete anos foi morar com uma mãe adotiva, porque sua mãe biológica a agredia por ciúmes do pai. Como toda moça que não queria ficar mal falada naquela época, casou antes dos dezoito anos, sem amor, e entrou em uma relação abusiva com Mário, primeiro e único marido.
O homem levava outras mulheres pra dentro de casa e impediu que Palmirinha continuasse os estudos.
Apesar de tudo isso, ela se tornou grande. Uma figura amada e admirada por um país inteiro, um país que sequer imaginava seu árduo caminho para chegar onde chegou.
Vivemos ainda em uma sociedade patriarcal. Palmirinha se foi sem assistir a mulheres sendo realmente livres.
O que mudou de lá pra cá?
Maridos continuam impedindo suas esposas de estudarem, por mais arcaico que isso seja – eu posso falar porque já vi. Em compensação, podemos usar calça sem sermos julgadas.
Grande coisa.
O que o feminismo devolveu para mulheres mais velhas como Palmirinha? Liberdade sexual? O direito de trabalhar e continuar ganhando 30% menos? O feminismo que eu acredito inclui nossas mais velhas. Considera o que elas já viveram em um mundo muito pior que o nosso.
Se estamos aqui, brigando pelo direito de sermos ouvidas, é porque mulheres como Palmirinha – como nossas mães e avós – lutaram antes pelo direito de se vestirem como quisessem, trabalhar, estudar, usar calça jeans.
Muito respeito e amor às nossas mais velhas. Que possamos lhes devolver um mundo melhor apesar de tanta dor.