Em entrevista a Fernanda de Sá, no site da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Frederico D’Ávila (PSL) cita como inspirações “o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher e o esquecido primeiro-ministro de Singapura Lee Kuan Yew”.
Apesar de não mencionado na entrevista, faz parte desse grupo de referências o ditador chileno Augusto Pinochet, a quem propôs um ato solene na Alesp.
O deputado expõe em seu gabinete um imenso quadro com a figura dos quatro, ao lado de de uma figura tão (se não mais) autoritária que eles: Bolsonaro.
Todos eles têm em comum uma devoção ao mercado e ao capital, também chamada de liberalismo, e gosto pela porrada.
Ronald Reagan:
Foi ator canastrão em Hollywood e presidente dos Estados Unidos (1981-1989).
Privilegiou Wall Street e o capital, enquanto deixava de lado os trabalhadores, acabava com os programas de assistência social e isentava grandes fortunas.
O ex-presidente também discursava em repúdio ao socialismo, a favor da guerra às drogas e a uma autoritária política externa.
Margaret Thatcher:
Primeira-Ministra do Reino Unido (1979-1990).
Fazia parte do Partido Conservador e era conhecida como Dama de Ferro. Nos seus primeiros anos de governo implementou uma série de reformas que reduziram impostos e desidrataram sindicatos.
Foi bastante próxima de Reagan, de quem talvez se inspirou em manter uma política externa autoritária, e fundou uma doutrina Thatcherismo, inspirada no ditador chileno.
Augusto Pinochet:
Ditador chileno (1973-1990) que ascendeu ao poder num golpe militar que culminou no suicídio de Salvador Allende. Implementou reformas econômicas que colocaram os sindicatos na ilegalidade e privatizaram a assistência social.
Enquanto acabava com os direitos trabalhistas dos chilenos, também fez questão de extinguir os direitos humanos: mais 40 mil pessoas foram mortas durante seu regime e mais de 3 mil estão mortas ou desaparecidas desde 1973.
Lee Kuan Yew:
Primeiro-Ministro de Cingapura (1959-1990).
Responsável por reformas econômicas e por incluir o país no bloco dos “Tigres Asiáticos”.
Modernizou a economia do país enquanto exercia um governo de repressão social, levando-o a ser condenado internacionalmente quando ainda estava no cargo.
Anticomunista, perseguia partidários de oposição (comunistas, trabalhistas e democratas), gays e gente que mascava chiclete (é sério).
A homossexualidade ainda é punida com dois anos da prisão. Cingapura é chamada de Disneylândia com pena de morte.
As chibatadas são uma forma de castigo para mais de 40 crimes, além de ser usada como medida disciplinar em prisões, reformatórios e escolas.
Eis as inspirações de Frederico D’Ávila (isso inclui Bolsonaro, que tem um lugar no coração do deputado como tem em sua parede).
O deputado relativiza as atrocidades cometidas por Pinochet como meio de “liberalizar” a economia chilena.
Em entrevista à Folha, evocando o velho argumento da direita para defender o golpe de 64, disse que na ditadura do chileno “houve excessos, é claro, mas não esse terror todo que o pessoal fala. Muitos dos que morreram eram agentes cubanos infiltrados que queriam implementar o comunismo”.
Para ele, as reformas liberalizantes de Pinochet justificam todas as violações de direitos humanos cometidas à época: “Foram ações necessárias para conter a deterioração econômica e social”, diz.