Política

Ao faltar pela segunda vez, ex-assessor de Flávio Bolsonaro humilha a justiça e zomba do povo brasileiro. Por Carlos Fernandes

O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) e seu ex-motorista Fabricio Queiroz (Mateus Bonomi/Agif/Folhapress/Facebook/Reprodução)

Estava marcado para a última quarta-feira (19) o depoimento à justiça do Rio de Janeiro de Fabrício Queiroz, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro que possui capacidade para implodir as bases de sustentação do futuro governo.

Segundo seus advogados, acometido por uma providencial e “inesperada crise de saúde”, Fabrício simplesmente deixou a ver navios juízes e procuradores que investigam o caso.

Remarcada a audiência para esta sexta (21) novamente Fabrício deu o cano na justiça, agora com a desculpa de que precisou “ser internado na data de hoje para realização de um procedimento invasivo com anestesia”.

Que doença, qual procedimento, em que unidade hospitalar e por quanto tempo são questionamentos que, ainda segundo sua defesa, “serão devidamente comprovados, posteriormente, através dos respectivos laudos médicos”.

Não importa o nível de estultice que o mais fervoroso defensor do clã Bolsonaro possa ostentar, acreditar nessa narrativa ultrapassa todos os limites de ingenuidade, ou má-fé, até hoje conhecidos pela humanidade.

Até o reino mineral sabe que não existem explicações lícitas que justifiquem a movimentação de R$ 1,2 milhão de um simples assessor em apenas 1 ano de investigação.

Expediente largamente utilizado por parlamentares das mais diversas siglas partidárias, o “confisco” de parte considerável dos salários pagos com verbas públicas à legião de pendurados nos gabinetes de vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, é moeda corrente tão normal, quanto ilegal.

Porém, nesse caso em particular, a coisa toma proporções palacianas porque invade a sala de estar do Palácio da Alvorada a esperar confortavelmente os seus futuros moradores.

O cheque no valor de R$ 24 mil nominal à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, dá ares de quadrilha à família católica-evangélica já, por diversas vezes comprovado, não muito afeita a questões de ordem moral, ética e legal.

E aqui é preciso que se mantenha claro o feito de que os valores em questão não se tratam de meras suspeitas. Apurados pelo Coaf, já não se discute nesse momento se realmente foram movimentados ou não.

Eles de fato existiram e de fato transitaram pelas contas de Fabrício Queiroz e Michelle Bolsonaro.

O montante totalmente transacionado, durante quanto tempo, sob que circunstâncias e, principalmente, para quais beneficiários são o que fazem Fabrício – e, claro, toda a família Bolsonaro – preferirem uma lobotomia a seco a terem que esclarecerem essas questões.

Entretanto, não cabe, ou pelo menos não deveria caber, o desejo insólito dos investigados. Uma vez previamente convocado a depor, conforme manda a lei, é dever do citado comparecer ao juízo indicado e prestar todas as informações solicitadas.

Uma vez desacatado ou, como agora é o caso, realizado chincana para o óbvio intuito de prejudicar as investigações, faz-se necessário, aí sim, a condução coercitiva tão criminosamente utilizada na esfera da Operação Lava Jato.

Ao deixar por barato, Fabrício Queiroz humilha a “impoluta” justiça brasileira ao expor sua parcialidade, tão feroz para uns, tão dócil para outros, além de zombar, dentes à mostra, de todo o povo brasileiro.

E assim seguimos, enquanto nada acontece, o nada caminha para a sua posse.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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